“PUAN” TRAZ O SEMPRE DELICIOSO SARCASMO ARGENTINO.

Por Celso Sabadin.

Sim, “Puan” é um filme sobre dois professores que disputam uma importante vaga acadêmica, nos bastidores de uma universidade. Mas é muito, muito mais que isso.

A trama que se desenrola entre os dois protagonistas serve como representação simbólica e microcósmica de uma questão muito maior: a transição da era do conteúdo para a era da frivolidade, talvez a grande ruptura do nosso século. Para tal discussão, nada mais adequado que tais professores sejam da área de… filosofia.

A morte de um veterano e respeitado mestre abre numa universidade argentina a concorrência para uma vaga de catedrático. Dois candidatos se apresentam: Marcelo (Marcelo Subiotto) e Rafael (Leonardo Sbaraglia).

Discípulo direto do falecido, Marcelo é um pouco tímido, talvez invariavelmente confuso, mas reconhecido entre seus colegas e pares como um grande e eficiente especialista em sua área. Já Rafael é menos experiente, mais jovem, leciona na Europa, e tem um grande “atributo” a seu favor: ele namora uma atriz famosa. Marcelo é visivelmente melhor preparado, mas Rafael “pode trazer mais e novos alunos para a Universidade”, como diz uma das personagens.

Falando assim, pode até parecer que “Puan” se desenrole sobre o velho conceito simplificador da dualidade, do mocinho x bandido que tanto nos acostumamos a ver na produção audiovisual estadunidense. Nada disso! Bem no estilo argentino de se fazer cinema, o longa destila altas e deliciosas doses do mais refinado sarcasmo, da sutil ironia que coloca o espectador na provocativa posição de não saber se ri, ou se chora.

Contratar um professor de filosofia, no lugar de um mágico, para entreter uma aniversariante de elite é apenas um dos exemplos que “Puan” utiliza para elevar a outro nível o conceito de constrangimento do ensino e do estudo.

“Puan” reúne no roteiro e na direção dois jovens (em torno dos 40 ainda é jovem, não é?) talentos do cinema argentino: María Alché, aqui em seu terceiro longa, e Benjamín Naishtat, conhecido do público brasileiro pelos ótimos “Bem Perto de Buenos Aires” e “Vermelho Sol”, entre outros.

Vencedor do prêmio de roteiro em San Sebastián, e concorrente ao troféu de Melhor Filme Iberoamericano do Goya do próximo ano, “Puan” é uma coprodução entre Argentina, Itália, Alemanha, França, e também um pouco de Brasil.

Estreou nos cinemas brasileiros na última quinta, 14/12.