Quatro Irmãos

A violência urbana continua em alta. Quatro Irmãos, o novo filme do diretor John Singleton (o mesmo da refilmagem de Shaft) vem conseguindo bons resultados nas bilheterias americanas, mesmo sem ter nenhum superstar no elenco, e mesmo fugindo das fórmulas fáceis e comerciais dos filmes policiais. Quatro Irmãos tem sua primeira cena passada numa pequena loja de conveniências. Uma simpática senhora de cabelos brancos (Fionulla Flanagan, de Os Outros) passa um sermão num garoto que estava prestes a roubar uma bala. O menino vai embora, cabisbaixo e teoricamente “convertido” para o mundo do bom comportamento. Segundos depois, ironicamente, dois assaltantes entram na mesma loja e executam sumariamente a doce velhinha. Mais alguns minutos de projeção e ficamos sabendo que ela era Evelyn Mercer, muito mais que apenas uma simpática senhora, uma verdadeira benfeitora da comunidade, que há décadas tinha como hábito promover a inclusão social de garotos à beira da marginalidade. Quatro destes meninos – agora adultos – acabaram sendo adotados por ela própria: Bobby (Mark Wahlberg, da refilmagem de O Planeta dos Macacos), Angel (Tyrese Gibson, de Mais Velozes e Mais Furiosos), Jeremiah (Andre Benjamin) e Jack (Garrett Hedlund). Estes inusitados irmãos – dois brancos e dois negros – se reúnem para o funeral da mãe, e logo percebem que a morte dela não foi conseqüência de um mero assalto. Há muito mais para descobrir, e há muita gente querendo abafar a história.
Apesar desta sinopse com gosto de faroeste e de filme barato, Quatro Irmãos está acima da média do gênero. Há, sim, cenas de grande violência, mas todas inseridas no contexto de um bom roteiro dramático que privilegia as relações humanas e, no caso, familiares. Enfatizando o clima melancólico do filme, direção de arte e fotografia criam uma Detroit cinza azulada, fria e úmida, coerente com o tema da dor da perda explorado pela trama. Junte-se a isso um elenco coeso e uniforme e o resultado é um filme cativante, que merece ser conferido.