“QUE MAL EU FIZ A DEUS?” É POLITICAMENTE INCORRETO AO FALAR DE PRECONCEITOS. QUE BOM!

Por Celso Sabadin.

Não é pouca a quantidade de filmes europeus que tem abordado questões como imigração e os consequentes preconceitos raciais e sociais que ela gera. O tema é dos mais discutidos no continente, e o cinema espelha bastante esta realidade.

Intolerância, racismo e medo do diferente não seriam assuntos,  a princípio, ideais para uma comédia. A princípio. Pois o cinema é capaz de tudo. Trazendo exatamente todos estes questionamentos, vem da França – de onde mais? – a comédia “Que Mal Eu Fiz a Deus?”, vista por mais de 12 milhões de pessoas em seu país de origem, e que já soma até o momento (agosto de 2015) um expressivo faturamento de US$ 174 milhões nas bilheterias mundiais, segundo o site Imdb.

Escrito e dirigido por Philippe de Chauveron, cuja obra não muito expressiva é praticamente desconhecida no Brasil, o filme tem uma trama até bastante simplória. Fala de Claude (Christian Clavier) e Marie (Chantal Lauby), um casal francês tradicional, católico, republicano e gaullista que no curto período de três anos vê sua pacata vida desmoronar. Motivo: suas três filhas se casam com um judeu, um muçulmano e um chinês. E a família acaba se transformando numa verdadeira reunião da ONU.

O grande mérito de “Que Mal Eu Fiz a Deus?” é não ter medo de ser politicamente incorreto. Não que o filme desande para o mau gosto e para as ofensas gratuitas, nada disso, mas o roteiro não se esconde na hipocrisia, e escancara de peito aberto as piadas racistas que no fundo boa parte das pessoas pensa, mas tem medo de externar. Ao não maquiar as situações tensas, a comédia pode até chocar os mais “corretos”, num primeiro momento, mas no fundo acaba contribuindo para uma discussão mais cristalina das questões raciais, mesmo porque parece que ninguém suporta mais tanto falso moralismo em relação ao tema.

Importante: só veja o trailer depois de ver o filme. Como já virou costume  no cinema mundial, ele estraga algumas das melhores surpresas.