Querida Wendy

Thomas Vintenberg na direção. Lars Von Trier no roteiro. Exatamente os dois mais badalados, polêmicos (e super-valorizados) cineastas criadores do finado movimento Dogma, realizaram juntos o inquietante Querida Wendy, filme vencedor do prêmio de melhor direção no Festival de Moscou.
Não se deixe levar pelo nome. Querida Wendy está longe de ser um romance, e a tal “Wendy” do título não é nenhuma mulher, mas sim a arma pela qual o jovem Dick (Jamie Bell, o astro de Billy Elliott) se apaixona. Ele é um garoto tímido, de uma pacata cidadezinha perdida o interior dos EUA (embora tudo seja filmado na Dinamarca e na Alemanha), que um dia compra uma arma numa loja decadente achando se tratar de um brinquedo. Não era. O pequeno revólver realmente atira, e Dick fica fascinado por ele. Mais que isso, junto com um punhado de amigos que os americanos adoram chamar de “loosers” (perdedores, fracassados), ele monta uma confraria de adoradores de armas. Um clube bizarro onde cada um tem a sua própria especialidade, desde o estudo histórico de armas antigas, até o mórbido interesse biológico pelos estragos que uma bala é capaz de fazer dentro do corpo humano. Quanto mais os amigos se dedicam à confraria, mais a insanidade deles vêm à tona, mesmo que todos insistam em se auto-proclamar “pacifistas”.
Produzido apenas por países europeus (Dinamarca, França, Alemanha, Inglaterra), Querida Wendy é uma sátira corrosiva ao amor exacerbado que os norte-americanos em geral têm pelas armas de fogo e pelas guerras. Assim como O Senhor das Armas, mas com estilo totalmente diferente, o filme critica a política belicista dos EUA, mas para isso prefere utilizar o microcosmo de uma cidadezinha do interior. É neste contexto que o cidadão calado, idiotizado e insignificante enquanto indivíduo se torna um poderoso agente destruidor e desagregador, desde que devidamente armado. Afinal, o que é George W. Bush além de um idiota com uma bomba atômica?
Para cristalizar a paródia, Vintenberg utiliza no final de seu filme os típicos clichês do western, exatamente o mais americano dos gêneros cinematográficos. Isso sem falar na música “America”, uma espécie de segundo hino dos EUA. Nada muito sutil, mas com resultados contundentemente interessantes.