“REDENÇÃO” E AS VÍTIMAS DEIXADAS PELO CAMINHO.
Por Celso Sabadin.
Antigas e profundas feridas do passado jamais cicatrizarão. Pelo menos enquanto existir o cinema. O drama político espanhol “Redenção” é um dos mais recentes exemplos disso.
Chegando em nosso circuito comercial com um relativo atraso (o filme é de 2021), “Redenção” conta a história verídica de Maixabel Lasa (Blanca Portillo, ótima), viúva de Juan María Jaúregui, político que em 2000 foi assassinado pelo movimento separatista basco ETA – Euskadi Ta Askatasuna.
Avessa a se esconder sob atitudes passivas ou amedrontadas, Maixabel intensifica ainda mais as suas atividades sociais e políticas, ao mesmo tempo em que se dispõe a conhecer pessoalmente os assassinos de seu marido. Ela não deseja vingança, mas sim tentar compreender a violência dos extremistas. Nesta pegada, o filme abre caminho para o desenvolvimento de outro intrigante e complexo personagem: Ibon (Luis Tosar, igualmente ótimo), um dos autores do crime, agora preso, e abandonado pelo próprio ETA. O embate entre estes dois protagonistas será antológico.
Como o tema propicia, “Redenção” é forte e vigoroso; tenso e perturbador. Para além da tentativa de análise da violência, o longa também investiga questões como arrependimento, perdão, diversos níveis de dores familiares, e principalmente a fluidez irracional das questões políticas em seus inevitáveis humores históricos. Bem como suas vítimas deixadas pelo caminho.
“Redenção” teve 14 indicações ao Prêmio Goya (venceu três), e competiu no Festival Internacional de Cinema de San Sebastián (cidade eminentemente basca), de onde saiu com mais duas premiações.
Quem dirige
A roteirista e diretora Icíar Bollaín começou sua carreira como atriz aos 15 anos, no filme O SUL (1983), de Víctor Erice. Em 1991, fundou a Producciones La Iguana, onde deu início à sua trajetória como diretora. Entre seus trabalhos, estão OI, ESTÁS SOZINHA? (1995), FLORES DO OUTRO MUNDO (1999) e TE DAREI MEUS OLHOS (2003), que lhe rendeu dois prêmios Goya de melhor direção e melhor roteiro. Em 2024 Bollain dirigiu SOY NEVENKA, ainda inédito no Brasil.