“REFLEXÕES DE UM LIQUIDIFICADOR” DIVERTE COM HUMOR NEGRO.

Assim como “O Homem que Virou Suco”, “Reflexões de um Liquidificador” já é um daqueles filmes que marcam pelo título. Num mercado cinematográfico que mal tem verba para divulgação e promoção, um bom título, um nome marcante e intrigante já é um belíssimo primeiro passo.

A boa notícia é que “Reflexões de um Liquidificador” é muito mais que apenas um bom nome. O roteiro de José Antonio de Souza desenvolve a história de um mero liquidificador que – após passar por um conserto – começa imediatamente a assumir consciência e até a falar. Não pergunte por quê. Esta é a graça da proposta. Neste seu processo de humanização, o eletrodoméstico inicia um processo de cumplicidade com sua dona, Elvira (Ana Lúcia Torre, ótima), uma simples dona de casa igual a milhões de outras. Ou não?

Elvira está preocupada com o marido Onofre (Germano Haiut), desaparecido há mais de uma semana. Ela, seu liquidificador falante (voz de Selton Mello), a vizinha (Fabiula Nascimento), o carteiro (Marcos Cesana, falecido no último mês de maio) e o impagável investigador de Polícia Fuinha (Aramis Trindade, marcante como sempre) vão tentar resolver o misterioso desaparecimento de Onofre. Ou não.

A história fantástica, fora do registro realista, contada em tom de humor negro e ambientada num bairro de classe média paulistana faz com que “Reflexões de um Liquidificador” mantenha pontos em comum com o controverso e premiado “Durval Discos”. Ambos trabalham o inusitado dentro do universo supostamente pacato e sedimentado do acomodamento social. Ambos mesclam o riso e a estranheza como fatores de desconforto. E ambos são criativos, inteligentes, divertidos e – cada uma à sua maneira – inesquecíveis para o cinéfilo.

A boa direção de André Klotzel (o mesmo de outro filme saborosamente inesquecível, “A Marvada Carne”) mistura com sabor e arte todos estes elementos que seriam, num primeiro momento, de difícil digestão, mas que acabam se transformando numa pequena delícia cinematográfica. Com destaque ainda para a fantástica direção de arte e a ótima fotografia em tons pasteis que se transformam em eficientes ferramentas para o clima e a ambientação do filme.

Fora o fato que você nunca maior verá o seu liquidificador da mesma maneira que via antes… Experimente!