RELIGIOSO PERSEGUIDO PELA DITADURA GANHA DOCUMENTÁRIO.

"Dom Fragoso", de Francis Vale, retrata a importância de personagem desconhecido pela maior parte dos brasileiros.

Por Celso Sabadin. Quem foi mesmo que falou que, para ser universal, retrate a sua aldeia? Não lembro agora, mas não importa: o cineasta cearense Francis Vale utilizou com precisão este conceito para realizar “Dom Fragoso”, documentário sobre um dos mais importantes líderes religiosos e sociais do nordeste. Um nome que provavelmente o Brasil desconhece, mas que mudou a história da região oeste do Ceará implantando políticas sociais para as quais todo o país deveria estar atento.

Nascido em 1920, Dom Antonio Batista de Fragoso foi bispo da Diocese de Crateús de 1964 a 1998. Defendendo os princípios da Teologia da Libertação e conscientizando a população mais pobre de sua região foi, obviamente, perseguido pela ditadura militar. Ganhou projeção internacional por ter implantado, de maneira pioneira, um novo estilo de Igreja, servindo de modelo na América Latina e rompendo com a estrutura rígida e hierárquica católica.

Em determinado momento do filme, o próprio biografado conta que certa vez reuniu os habitantes de um pequeno vilarejo e lhes perguntou quem iria tirá-los da pobreza. A resposta que ouviu foi: “Deus”. Dom Fragoso refez então a pergunta: “Qual foi a última vez que Deus veio aqui e cavou um poço?”. Diante da perplexidade dos moradores, o religioso então comandou mutirões que aos poucos foi mudando o perfil de pobreza da região, fazendo com que a própria população se conscientizasse que apenas eles mesmos – e não o prefeito, nem Deus – poderia mudar algo por ali. Não é de admirar que Dom Fragoso fosse tão perseguido pelas autoridades.

Dom Fragoso faleceu em 2006, mas sua obra permanece. O filme mostra assentamentos idealizados à luz de sua filosofia, e que até hoje colhe ótimos resultados através de trabalhos cooperados e intensa participação social.

“A dedicação de Dom Fragoso às causas populares, é sua maior herança” conta Francis Vale. “Não existiam sindicatos rurais e foi ele quem ajudou a criá-los. Hoje, encontramos organizações de trabalhadores rurais em todos os municípios cearenses, a grande maioria delas bem estruturada e produtiva”, afirma.

Com 71 minutos de duração, o DVD está disponível para venda no Instituto Dom Fragoso – (88) 9679.7467 – em Crateús. “O documentário é destinado a cineclubes, comunidades, assentamentos, enfim, onde o povo se encontra”, finaliza Vale.

Contatos diretos com o cineasta podem ser feitos também pelo email francisvale@fortalnet.com.br