REMAKE DE FILME ESPANHOL, “AOS TEUS OLHOS” É URGENTE E NECESSÁRIO.

Por Celso Sabadin.

Pelo menos à primeira vista, é inevitável comparar o brasileiro “Aos Teus Olhos” com a coprodução sueco-dinamarquesa “A Caça”. Ambos têm o mesmo ponto de partida, qual seja, um professor acusado de assédio sexual a uma criança. Ambos também fazem a opção (muito feliz, por sinal), de a princípio não esclarecer se as acusações têm fundamento. São pontos em comum perfeitamente compreensíveis num momento em que o tema é pauta recorrente e obrigatória nestes tempos de sociedade doentia. No decorrer da trama, porém, “Aos Teus Olhos” abre uma narrativa variante e passa a abordar outro assunto igualmente pulsante, atual e doentio: esse tribunal de julgamentos sumários que se convencionou chamar de redes sociais.

O privado vira público, a dor vira espetáculo, e por detrás de cada pequeno aparato tecnológico emerge um ogro sem face que faz da somatória de preconceito mais desinformação a sua destilaria privada de bile amarga. E em meio a este turbilhão de ignorâncias e intolerâncias, aquela que mais deveria ser preservada – a criança – torna-se justamente a mais exposta. A tão incensada velocidade furiosa dos novos tempos é acelerada no sentido da destruição moral de vidas.

O roteirista Lucas Paraizo inspirou-se no filme espanhol “El Virus de la Por”, de Ventura Pons, que por sua vez é baseado na peça teatral “El Principi D’arquimedes” de Josep Maria Miró, para esta sua versão brasileira. “Aos Teus Olhos” chama a atenção pela sobriedade da direção (de Carolina Jabor, neste que é seu segundo longa, após “Boa Sorte”), pelas acertadas escolhas do casting e pela segura direção de atores. Daniel de Oliveira beira a perfeição no papel principal, exalando uma ambiguidade, mais que bem-vinda, necessária ao personagem.

Exibido em diversos festivais nacionais e internacionais o filme recebeu os prêmios de melhor roteiro (Lucas Paraizo), ator (Daniel de Oliveira), ator coadjuvante (Marco Ricca, como o pai do aluno) e melhor longa de ficção pelo voto popular no Festival do Rio. O longa também conquistou o Prêmio Petrobrás de Cinema na 41ª Mostra São Paulo de Melhor Filme de Ficção brasileiro e os prêmios de Melhor Direção no 25º Mix Brasil e SIGNIS no 39 º Festival de Havana.

Urgente e necessário.