“REZA A LENDA”, O MAD MAX SERTANEJO. SÓ QUE NÃO.

Por Celso Sabadin.

A comparação é inevitável e, confesso, até um tanto óbvia: “Reza a Lenda” seria uma espécie de Mad Max sertanejo. Toda a concepção visual, figurinos, atitudes dos personagens, aridez, as estradas, o toque de brutalidade e até um pouquinho da temática, tudo nos remete à famosa ficção australiana.

A direção tem pulso, sabe o que quer, o roteiro está bem amarrado e tudo é tecnicamente bem realizado. Fiquei então uns dias pensando, maturando este texto, tentando entender porque o filme não funciona. Por que não consegui entrar nos personagens, por que não me envolvi com a trama, por que, afinal, “Reza a Lenda” não conseguiu me extrair emoções? Pensei, num primeiro momento, que a resposta pudesse estar no fato da protagonista Laura (Luisa Arraes) ter saído de um acidente espetacularmente violento e fatal apenas com uma torçãozinha no pulso. Mas acho que esta afronta à verossimilhança poderia ser relevada. A questão seria maior: “Reza a Lenda” simplesmente não passa verdade. A preocupação excessiva em revestir todo e qualquer plano de algum maneirismo especial; o excesso de efeitos de time-lapse para marcar a passagem do tempo; o bom Cauã Reymond, para mais que se esforce, não conseguindo abandonar sua aura de galã para tentar viver um personagem mais cruel e sofrido; todo aquele falso sertanejo que emana de um suposto padrão Global; tudo isso fez de “Reza a Lenda”, digamos assim, um competente produto audiovisual, mas que não tem alma cinematográfica.

Excessivamente precioso nas questões técnicas, “Reza Lenda” resulta num filme de espírito e alma publicitárias. Um trabalho que, embora correto, de alguma forma não recebeu as bênçãos dos deuses do cinema.

Um Mad Max sertanejo que não é nem Mad Max, nem sertanejo.