“RIO, NEGRO” ESTUDA O RACISMO ESTRUTURAL A PARTIR DA CAPITAL CARIOCA.

Por Celso Sabadin.
Foi muito gratificante a experiência de assistir ao documentário “Rio, Negro”, coincidentemente ou não (dizem que nada é coincidência), no mesmo momento em que estou terminando a leitura da trilogia “Escravidão”, de Laurentino Gomes.
Mesmo porque, mais do que um filme, “Rio Negro” é um estudo aprofundado sobre como a cidade do Rio de Janeiro se transformou física e geograficamente durante os anos, ao mesmo tempo em que permaneceu – e permanece – caminhando a passos de lesma no quesito igualdade racial. Quando não a passos de caranguejo.
Principal destino mundial de pessoas escravizadas arrancadas violentamente da África, o Rio de Janeiro se forjou fortemente sobre a identidade negra, transformando-se numa sociedade das mais incongruentes dominada por uma população branca que, ao mesmo tempo que fazia de tudo para segregar o negro, não tinha capacidade – muito menos vontade política – de manter-se economicamente sem a exploração violenta de seu trabalho.
Única corte europeia estabelecida do lado de baixo do Equador, o Rio torna-se a capital mundial da incoerência.
“Em Rio, Negro, o período de transição entre a monarquia e a república é tratado como um momento crucial para a vida social e política da cidade. Foi também quando a população urbana pobre e preta se consolidou, se organizou e foi amplamente acossada pelo Estado. O filme vem pensar a cidade a partir da presença e contribuição dessa população, responsável pelo nosso modo de ser, nossa linguagem falada e corporal, nossas crenças, entre tantas outras características marcantes presentes no nosso cotidiano”, afirma Fernando Sousa, que divide a direção e o roteiro com Gabriel Barbosa, os mesmos do documentário “Entroncamentos”.
Além de um vasto material iconográfico, “Rio Negro” se apoia em depoimentos de estudiosos do tema, artistas e ativistas do movimento negro, como o ator Haroldo Costa, o escritor Luiz Antonio Simas, a vereadora Tainá de Paula, o carnavalesco Leandro Vieira, o ritmista Eryck Quirino, a atriz Juliana França, a ialorixá Mãe Meninazinha de Oxum, a historiadora Ynaê Lopes, os pesquisadores Christian Lynch, Nielson Bezerra e Eduardo Possidonio, entre outros.
A estreia nos cinemas é nesta quinta, 02 de março.