Robôs

O segmento de desenhos animados de longa metragem está cada vez mais surpreendente. Procurando Nemo, Shrek (1 e 2) e Os Incríveis são desenhos que já podem ser considerados clássicos. E olha que é muito difícil algum setor do cinema criar tantos “clássicos” num período de tempo tão curto. Enfrentando os poderosos DeamWorks (de Shrek, Espanta Tubarões, Fuga das Galinhas e Madagascar) e Disney/Pixar (de Os Incríveis, Toy Story, Vida de Inseto, etc.), a Fox também chega para brigar neste setor extremamente divertido (e lucrativo) da indústria cinematográfica. E traz como arma o ótimo Robôs, um desenho que segue a linha dos grandes sucessos recentes, isto é, recomendável tanto para adultos como para crianças.
Tudo se passa numa terra onde só vivem robôs. Não há humanos. As primeiras cenas mostram o “nascimento” de Rodney, um bebê-robô de classe média. À medida em que cresce, o robozinho é obrigado a trocar de carcaça, e como sua família não é rica, ele vai se utilizando de peças usadas de seus primos. Ao se tornar adolescente, Rodney resolve ir atrás do seu sonho: mudar-se para a cidade grande e se tornar um inventor. Porém, ele logo percebe que as dificuldades serão muito maiores do que ele esperava, já que a sociedade está dominada por uma intensa febre de consumismo, onde tudo o que é usado necessita ser imediata e cruelmente descartado.
Aos olhos infantis, Robôs é uma fascinante viagem por um mundo mágico, colorido, com personagens bem construídos, divertidos, e alucinantes doses de ação. O que já seria mais do que suficiente para recomendar o filme. Mas é quando se pensa um pouco mais sobre seu roteiro que Robôs ganha a dimensão de um clássico. Sem exageros. Chega a ser emocionante a crítica que o filme tece contra o mundo de hoje. O tema é consumismo desenfreado, que descarta sem dó nem piedade tudo aquilo que é considerado ligeiramente quebrado, sem função ou simplesmente fora de moda. Incluindo o que é possível ser consertado. Não ter (ser) o último modelo é estar fora da vida. E é claro que, sob este ponto de vista, o filme não está falando de meros robozinhos, mas sim de seres humanos, de velhos, deficientes, minorias e excluídos em geral. Os motivos comerciais justificam a instauração de uma espécie de ditadura da beleza, que exige que os novos robôs sejam brilhantes e reluzentes, e que ninguém tenha direito a peças de reposição. É o ápice de todos os sonhos de consumo: gente descartável, fora de linha.
Escrito e dirigido por Chris Wedge e pelo brasileiro Carlos Saldanha (a mesma dupla de A Era do Gelo), Robôs já é um fortíssimo candidato ao Oscar de melhor desenho animado de longa-metragem do ano que vem, se algo mais novo não o tornar descartável nos próximos meses.