“ROCKY BALBOA” SE CONFUNDE COM STALLONE

O bi-campeão dos pesos pesados Rocky Balboa (Sylvester Stallone) não luta mais com o antigo calção estrelado e listrado com as cores da bandeira norte-americana. Não combate mais os russos e os “inimigos do estado”, como fazia na Era Reagan. Agora, mais maduro, provavelmente mais consciente, e certamente mais entristecido, ele usa um nostálgico calção negro e dourado. E luta por si próprio, para combater os demônios de seu passado. Sinal dos tempos? Teria Rocky Balboa desistido de usar seus punhos de aço a favor da propaganda americana, desiludido com a truculência da Era Bush? Stars and stripes aren´t forever?
De qualquer maneira, ele está de volta, 30 anos após o enorme sucesso do primeiro episódio (vencedor de três prêmios Oscar, incluindo o de melhor filme, o que se constituiu numa das piadas mais sem graça da Academia), e 16 anos após ter “pendurado as luvas “ em “Rocky 5”. Agora, Rocky Balboa, um dos maiores ícones da história recente do cinema, vai tentar articular a sua volta aos ringues, por mais inverossímil que a trama possa parecer. Tudo bem que o cinema americano costuma usar e abusar do velho tema da “segunda chance”, mas imaginar que o pugilista sessentão (Stallone completou 60 anos em julho passado) possa enfrentar de igual para igual ninguém menos que o atual campeão Mason Dixon (Antonio Tarver, boxeador na vida real, estreando no cinema) na sua plenitude física, parece um pouco fora de contexto demais.
Porém, cinema é ilusão (até Indiana Jones promete voltar), e para quem estiver disposto a comprar a improvável premissa, o filme não faz feio. Na primeira hora, o roteiro se detém em mostrar um Rocky acabrunhado, que não consegue superar a morte da esposa Adrian (Talia Shire, aparecendo somente em cenas de arquivo), tem dificuldades de relacionamento com o filho, e que procura esconder seus problemas contando velhas histórias de boxe para os clientes de seu restaurante. Um programa de TV que simula, via computador, lutas impossíveis de boxeadores já aposentados, levanta a polêmica: e se Rocky Balboa estivesse na ativa, ele ainda seria campeão? Coisa típica de programa esportivo com falta de assunto. Mas que acende a centelha da competição no coração do velho Rocky.
Enquanto isso, uma sub-trama envolvendo uma velha conhecida de Rocky, o filho dela e um cachorro, desvia completamente o foco da história, apresenta personagens sem nenhuma função dramatúrgica, e ajuda a enrolar o espectador até chegar o tão esperado momento da luta. Que dura 12 minutos na tela.
À primeira vista, uma história trivial que busca apenas o dinheiro fácil que vem a reboque do ressurgimento da franquia. Mas uma segunda olhada é inevitável: quem é, afinal, o verdadeiro protagonista desta história de renascimento? Afinal, vale lembrar que há muito tempo Stallone não encaixa um bom golpe, aliás, um bom sucesso na indústria do cinema, nem como ator, muito menos como diretor e roteirista. E que esse seu novo “Rocky Balboa” – que ele não apenas interpreta como também escreve e dirige – já supera os US$ 65 milhões de faturamento somente nas bilheterias dos EUA. Ou seja, mais que nunca, criador e criatura se confundem. Isso sem falar que “Rambo 4” vem aí… mas essa já é uma outra briga…