“RODANTES”, ONDE O BRASIL SE ENCONTRA.

Por Celso Sabadin.

Em algum lugar do imenso norte brasileiro, três situações típicas da gigantesca situação de exclusão social do nosso país se desenvolvem de forma tangencial. Na primeira, o jovem pescador Odair (Jonathan Well) decide desafiar a falta de perspectivas de seu trabalho e cai na estrada em busca de novos horizontes. Na segunda, a prostituta Tatiane (Caroline Abras), mergulha solitária nos perigosos caminhos de prostíbulos decadentes e caminhoneiros violentos. E, na terceira, o pai de família Henry (Felix Smith), refugiado haitiano, conhece de perto o horror do extermínio brasileiro ao trabalhar numa violenta zona de garimpo.

Eles são os “Rodantes” a quem se refere o título do longa:   protagonistas à margem da sociedade que vivem seus dramas à margem da estrada de um país em queda livre que cada vez mais se marginaliza do mundo civilizado.

Não se trata de um filme de episódios, como a sinopse acima poderia sugerir. As histórias caminham juntas, se permeiam, fluem com desenvoltura em narrativas fragmentadas tanto no espaço como no tempo. Caberá ao espectador montar o quebra-cabeças fílmicos das três situações que comporão o painel desta sociedade em desespero em que vivemos.

Com roteiro do estreante em longas Lucas Camargo de Barros, “Rodantes” teve seu argumento inspirado por uma viagem de carro de 15 mil quilômetros que o diretor do filme, Leandro Lara, empreendeu fotografando e escrevendo histórias para uma revista, em 2006.

Boa parte dos méritos do filme devem ser creditados também à excelente fotografia de Adolpho Veloso (o mesmo do português “Mosquito”), que capta com precisão e magia as mais diversas cores e texturas do mundo estradeiro, transpondo para a tela este universo sensorial muito particular de neon e selva. A câmera oscilante, trepidante, transmite a insegurança das situações vividas pelos personagens, ao mesmo tempo em que alterna com talento belos planos abertos que nos transportam para a imensidão da região norte, e enquadramentos fechados que remetem à claustrofobia e ao sufoco das vidas enfocadas.

A produção do filme durou 6 meses, incluindo pesquisa de locação, pré-produção e filmagem. A equipe enfrentou diversos desafios devido à infra- estrutura das cidades, à logística de equipamentos, deslocamento de pessoas e condições climáticas da região com temperaturas médias de 40 graus. Foram mais de 1.000 pessoas envolvidas na produção, incluindo 70 funcionários, 40 no elenco principal e mais de 800 extras, principalmente pessoas das cidades locais.

O diretor Leandro Lara é de Belo Horizonte, diretor de cinema e produtor formado em Artes e Comunicação na PUC – MG e especialista em direção de fotografia pelo Instituto Cubano – Escuela Internacional de Cine y Televisión – com sede em San Antonio de Los Baños. Dirigiu e produziu o documentário sobre Baile Funk com o Dj Diplo, “Favela on Blast” e a série documental de TV “Reis da Rua”. Recentemente terminou seu diário audiovisual sobre limites e fronteiras chamado “Prelúdios do Sol” composto de doze filmes experimentais curtos. Atualmente, está desenvolvendo os longas “TAZ”, em parceria com o roteirista Lucas C. Barros e o drama psicológico “Cleveland”.

No elenco, além dos já citados, estão Murilo Grossi, Fernando Alves Pinto, Clara Chevaux, Rodolfo Vaz, Suzana Vieira Gonçalves, Acauã Sol, Daniel Infantini, Lívia Deschermayer, Benki Ashaninka e Angetona Dorgilus.

“Rodantes” estreia dia 29 de julho simultaneamente em cinemas de São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Brasília e Salvador, e também nas plataformas: Claro Now, Vivo Play e Oi Play.

 

28/07/2021