ROMANCE ALEMÃO “UM AMOR ALÉM DO MURO” TEM ALTOS E BAIXOS

Se a queda do muro de Berlim foi o tema principal da deliciosa produção alemã “Adeus, Lênin”, que tratou o assunto com um misto de humor e nostalgia, chega agora aos cinemas brasileiros um outro filme – também alemão – que trata do outro lado da questão: os fatos que levaram à construção da histórica muralha que dividiu Berlim. “Um Amor Além do Muro” não é tão talentoso e envolvente como “Adeus, Lênin”, mas tem suas qualidades.
A ação começa em 1961, na época da Guerra Fria. Americanos e soviéticos continuam “loteando” o planeta entre Capitalismo e Comunismo, num processo iniciado logo após a 2a. Guerra. Neste momento, a Alemanha já está politicamente dividida, mas ainda sem o muro. A juventude local – garotos e rapazes que sequer haviam nascido quando Hitler morreu – também se divide. Há os que desejam permanecer no setor comunista para lutar por um mundo melhor, os que preferem se entregar às delícias do consumismo, e há os que mal compreendem a situação.
Neste cenário, três jovens vão viver uma intensa história de amor e política: o apolítico Siggi (Max Riemelt) se encanta á primeira vista com a militante Luise (Jessica Schwarz, de “Perfume”), sem saber que ela é casada com Wolle (o bom estreante Ronald Zehrfeld). Na busca pelo objeto de sua paixão, Siggi começa a freqüentar a boate Cacatua Vermelha, sem saber – e sequer se importar – que o lugar é um centro de resistência da cultura capitalista contra as imposições soviéticas. Um lugar perigoso, onde se dança rock´n´roll sob os olhares de reprovação de sisudos membros do “partidão”.
Siggi, Luise e Wolle se tornam amigos, mas duas fortes correntes de tensão minam irreversivelmente o relacionamento: de um lado, as diferenças políticas entre as duas Alemanhas caminham para uma situação insustentável que culminará, como se sabe, com a ignorante construção do famoso Muro de Berlim. E por outro lado, a paixão represada e crescente de Siggi por Luise tentará romper as comportas da simples amizade.
Com direção de Dominik Graf (de “O Mapa do Coração”), ”Um Amor Além do Muro” é irregular, alternando bons momentos com cenas que, se enxugadas, favoreceriam o ritmo da trama como um todo. Em determinados pontos chega a ser ingênuo, mas carrega um bem-vindo frescor de anos 60 e provoca uma interessante reflexão sobre o poder político – como sempre – direcionando de forma violenta os relacionamentos humanos.
Se Siggi, Luise e Wolle fossem franceses, em 1961, teríamos outro filme. Talvez “Uma Mulher para Dois”. Mas eles são alemães, e é fácil supor que o desfecho será muito mais trágico do que romântico.