“ROMÂNTICOS ANÔNIMOS” ABORDA A INCOMUNICABILIDADE COM LEVEZA E HUMOR.
Há filmes que encantam pela total falta de pretensão e pelo despojamento. É o caso do simpático “Românticos Anônimos”, comédia romântica franco-belga que parece não ostentar nenhum outro objetivo que enternecer com bom humor. O que faz com muita competência.
Tudo acontece quando Jean-René (Benoît Poelvoorde), dono de uma decadente fábrica de chocolate, se apaixona por Angélique (Isabelle Carré), sua recém-contratada funcionária. E ela por ele. Um amor imediatamente correspondido que transcorreria sem sobressaltos não fossem pelas gigantescas travas emocionais de seus protagonistas: ele tem pavor de ficar sozinho ao lado de uma mulher, e ela é portadora de uma incomensurável ansiedade.
Há um toque de fábula no estilo de direção de Jean-Pierre Améris, o mesmo de “Más Companhias”. Desde as ambientações romântico-retrô, passando pelos figurinos em tons fortes, até o pano de fundo da trama, ambientado nos bastidores do mundo mágico do chocolate (não veja o filme se estiver com fome). Este tom quase irreal contrasta e ressalta o tema marcadamente atual que o roteiro propõe: a incomunicabilidade do mundo moderno. A falta das palavras, o medo do dizer, a indisponibilidade em ouvir. Não a incomunicabilidade dos gadgets eletrônicos e das redes sociais, mas sim aquela intrínseca, que nos acompanha desde sempre, seja a adquirida através das pancadas que a vida dá, seja por aprendizado parental. Afinal, a maior preocupação do pai de Jean-René, era de que “nada nos aconteça”. Nada.
São assuntos perturbadores, mas que aqui são levados com a doçura e a leveza de um bom chocolate. Nada daqueles diálogos profundos e filosóficos que historicamente marcam a narrativa do cinema francês: “Românticos Anônimos” prefere as cores fortes, o medo transformado em sorriso, e a vitória da possibilidade sobre o improvável. Sem medo de fazer a plateia feliz.

