“RÔMULO & REMO”: A OBSESSÃO POR DEUS FERRANDO A HUMANIDADE HÁ 3 MIL ANOS.

Por Celso Sabadin.

Não dá outra: quanto mais os homens falam de deus e se remetem a ele, mas a humanidade quebra a cara. Provavelmente não foi esta a motivação principal do filme “Rômulo e Remo: o Primeiro Rei”, exibido na Festa do Cinema Italiano, 2021, mas que o pensamento ficou bem explícito, ficou.

Com direção de Matteo Rovere, o filme se inspira na mitologia dos dois irmãos fundadores de Roma, em 753 aC. A trama começa com ambos já adultos (não há, portanto, a questão da loba que os teria amamentado) e de como eles teriam inadvertidamente se engajado na luta contra o povo de Alba, empreendendo uma fuga que culminaria com a fundação de Roma.

Não há no roteiro de Filippo Gravino, Francesca Manieri e do próprio diretor uma preocupação histórica ou mesmo mitológica em desenvolver os personagens com alguma profundidade. Nota-se no longa uma oportunidade de, a partir de um pano de fundo a princípio cheio de possibilidades, realizar uma aventura linear. E repleta de violência, como não poderia deixar de ser, naqueles tempos – não por acaso – chamados de “bárbaros”.

O que mais chama a atenção, porém, é a obsessão por deus, ou por deuses. Tudo é feito em nome de deuses, tudo se justifica em nome deles, todos querem tentar adivinhar o que pensam as divindades e como elas agem, cada um se apropria do que acredita ser sua fé para praticar os atos mais bárbaros e violentos. Teria mudado muito, nos tempos de hoje? Provavelmente não.

Indicado a 15 prêmios Davi Di Donatello (ganhou fotografia, som e produção), “Rômulo e Remo” é falado em um idioma que os produtores alegam ser um tipo de latim arcaico, próximo ao que se falaria na região, na época.

Com tanta matança, sangue, traições e brigas pelo poder, “Rômulo e Remo” me remeteu diretamente ao divertido personagem Obèlix, que sempre dizia que “os romanos são uns neuróticos”. A acreditar no filme, a gente entende o motivo.