ROTEIRO FRACO E PIADAS BOAS EM “OS PINGUINS DE MADAGASCAR”.

Por Celso Sabadin. 

Definitivamente, Hollywood está repleta de bons piadistas, mas carece muito de bons roteiristas.  O fato pode ser novamente comprovado na animação “Os Pinguins de Madagascar”, filme que repete antigos vícios de várias outras animações que buscam tanto o público infantil como o adulto.

Os heróis-protagonistas, motivados por uma inexplicável e incontrolável vontade de subverter o lugar comum de sua sociedade, deixam seu meio social e se embrenham por uma aventura pelo mundo, onde encontrarão um mega vilão totalmente tecnológico que criou uma megamáquina do mal. Porém, as motivações do vilão são totalmente fundamentadas em sua própria insegurança, quase sempre advindas de um trauma infantil. Claro, tudo se resolve numa grande batalha a céu aberto (de preferência envolvendo os cidadãos de Nova York) e termina num número musical.

A sinopse acima é de “Os Pinguins de Madagascar”, mas serve também para uma boa parte de outros filmes do gênero. Sob o ponto de vista de roteiro, o filme é pífio. Por outro lado, o cinema americano mantém aqui sua forte tradição de criar boas gagas, boas situações rápidas e cômicas, e construir personagens divertidos (e os seriados de TV são um enorme celeiro destes talentos), o que forma o ponto alto do filme: o humor não para; nem a ação. A tática é velha conhecida dos filmes de aventura: tornar a ação tão esquizofrênica de maneira a não deixar tempo para o público pensar no que está de fato acontecendo. Para o público não perceber quão fraco é o roteiro. Vale a piadinha urgente, o riso imediato de consumo rápido, a montanha russa de risadas, os diálogos rápidos e cheios de trocadilhos que devem ter enlouquecido os tradutores para outros idiomas. Divertido, sim; satisfatório, não.

Para usar os jargões da produção audiovisual, o filme é, ao mesmo tempo, uma prequel e um spin-off. Prequel porque mostra as origens dos personagens que já conhecemos de outra produção (aliás, como também tem sido moda nos filmes de ação), e spin-off porque trata-se de um filme estrelado por personagens que já foram coadjuvantes em outro longa, no caso, os pinguins de “Madagascar”, como o próprio título já deixa bem claro.

Como sempre acontece neste tipo de produto, de forte apelo junto ao público infantil, incorpora-se à trama todo um novo pacote de personagens, ideais para que sejam vendidos cada vez mais bonequinhos, brinquedos, lancheiras e outros itens de merchandising: são os membros da North Wind, uma organização de combate ao crime, chefiada por uma raposa (talvez um lobo ou um cão husky, não sei) e municiada com o que há de mais moderno em termos de tecnologia de espionagem.

Após alguns episódios na TV e um curta-metragem de Natal, esta é a primeira vez que o divertido quarteto de pinguins metidos a agentes secretos se encontra na tela grande. E provavelmente não será a última, pois até a primeira semana de janeiro de 2015 a animação já havia faturado, no mundo inteiro, respeitáveis US$ 280 milhões (sendo US$ 40 deles só na China). Não era exatamente o que os produtores esperavam para um filme que, estima-se, tenha custado US$ 130 milhões, mas é uma sinalização que a franquia deve continuar. Com muito mais bonequinhos para vender.