“SANTINO”, ENTRE O CÉU E A TERRA.
Por Celso Sabadin.
Santino é um homem raro. Acredita saber segredos inconfessáveis do plano místico, e conversar com animais. Porém, acredita também em verdades mais telúricas, como na importância da preservação das nascentes hídricas como ação fundamental para a preservação da flora, da fauna e da própria sobrevivência humana. Entre o céu e a terra, entre as plantas e as águas, Santino é um típico representante do Brasil profundo, incrustrado no sertão de Minas Gerais.
O também mineiro Cao Guimarães levou sua câmera de cineasta e sua sensibilidade de artistas plástico para registrar este Santino rural. O resultado é um documentário que leva o nome do documentado e estreia e cinemas nesta quinta-feira, 14/11,
A ideia para “Santino” surgiu a partir de conversas entre Cao Guimarães e o músico Makely Ka, que assina argumento e codireção do filme. Em 2012, Makely fez uma viagem de bicicleta pelas regiões descritas por Guimarães Rosa no romance “Grande Sertão: Veredas” e conheceu diversas figuras do cerrado. Makely, junto a Damiana Campos, moradora da região e que assina produção, colaborou na pesquisa de personagens e encontrou Santino Araújo. O carisma e fascínio do veredeiro reconfiguraram todo o projeto, tornando-o o centro do filme.
Assim, Cao retorna ao sertão mineiro, onde já esteve em seus trabalhos anteriores como “A Alma do Osso” (2004), “Andarilho” (2007) e “O Homem das Multidões” (2013). “Santino”, que competiu em 2023 no festival É Tudo Verdade, mantém o estilo poético do cineasta, que lança mão dos tempos e silêncios alongados do lugar para criar um registro ao mesmo tempo intimista e profundo do objeto de seu longa.
“É um filme simples, observacional, que não busca se fechar em conclusões, deixando que cada espectador sinta a luta do ser humano com a natureza, com seus semelhantes e com o desconhecido e o mistério”, conclui o cineasta.
Quem dirige
Cao Guimarães atua no cruzamento entre o cinema e as artes plásticas. Com produção intensa desde o final dos anos 1980, o artista tem suas obras em numerosas coleções prestigiadas como a Tate Modern (Reino Unido), o MoMA, o Museu Guggenheim (EUA), Fondation Cartier (França), Colección Jumex (México), Inhotim (Brasil), Museu Thyssen-Bornemisza (Espanha), dentre outras. Participou de importantes exposições como XXV e XXVII Bienal Internacional de São Paulo, Brasil; Insite Biennial 2005, México; Cruzamentos: Contemporary Art in Brazil, EUA; Tropicália: The 60s in Brazil, Áustria; Sharjah Biennial 11 Film Programme, Emirados Árabes Unidos e Ver é Uma Fábula, Brasil, uma retrospectiva com grande parte das obras do artista expostas no Itaú Cultural, em São Paulo.
Realizou 12 longas-metragens: “Amizade” (2023); “Santino” (2023); “Espera” (2018), “O Homem das Multidões” (2013), “Otto” (2012), “Elvira Lorelay Alma de Dragón” (2012), “Ex Isto” (2010), “Andarilho” (2007), “Acidente” (2006), “Alma do Osso” (2004), “Rua de Mão-Dupla” (2002) e “O Fim do Sem Fim” (2001), que participaram de renomados festivais internacionais como Cannes, Locarno, Sundance, Veneza, Berlim, IDFA e Rotterdam. Ganhou retrospectivas de seus filmes no MoMA, em 2011, Itaú Cultural, em 2013, BAFICI (Buenos Aires), Cinemateca do México em 2014, Festival EDOC Equador (2024). Em setembro de 2017, inaugurou a maior exposição e retrospectiva acerca de sua obra em território europeu, no Eye Filmmuseum, em Amsterdã. É representado pela Galeria Nara Roesler (São Paulo, Rio e Nova York) e Galeria Xippas (Paris e Montevideo).