“SANTORO” RATIFICA A ESTUPIDEZ DOS GOVERNOS NÃO DEMOCRÁTICOS.
Por Celso Sabadin.
Confesso minha ignorância. Até assistir ao filme “Santoro – O Homem e Sua Música”, a única referência que eu tinha em relação a Claudio Santoro era o nome do auditório da cidade de Campos do Jordão. E olha que desde sempre sou um grande fã de música clássica. Vendo o filme, não só percebi a gigantesca importância nacional e internacional do biografado, como também notei que desconhecia (e de certa forma ainda desconheço) até as suas obras mais famosas. Das quais, inclusive, gostei demais ao tomar contato com o filme.
Fiquei surpreso com a imensidão do meu desconhecimento, e pensei: “por que?”. A resposta está no próprio documentário: comunista convicto e declarado, Claudio Santoro foi perseguido pelas duas ditaduras pelas quais passou: a de Getúlio e a dos militares. Teve seu trabalho dificultado, foi impedido várias vezes de sair do país para dar concertos internacionais, boa parte da divulgação de sua obra foi boicotada, e em tempos mais bicudos até pessoas de seu relacionamento foram pressionadas. Não por acaso, exilou-se por um bom tempo na Europa, e por ali é mais conhecido e respeitado do que por aqui.
Evidentemente, não é um caso isolado. Governos não democráticos sempre têm este poder de fazer a ignorância e a truculência se sobreporem à arte. Foi assim na Alemanha de Hitler, na União Soviética de Stalin, e no Brasil do primeiro governo de Getúlio, dos milicos de 64 e do atual desgoverno de Temer.
Como filme, cinematograficamente falando, “Santoro – O Homem e sua Música” é fraco, usando e abusando de uma estética didático/televisiva que por vezes pode soar aborrecida. Mas o fato de resgatar a figura de Claudio Santoro e recontextualizá-lo nesses nossos tristes tempos de arte sufocada já o faz merecedor de nossos aplausos.
O documentário estreou em 8 de março.