“SÃO PAULO COMPANHIA DE DANÇA” ABANDONA O VERBAL E INVESTE NO SENSORIAL.

O documentarista Evaldo Mocarzel já virou referência: gostem ou não de seus filmes, ninguém no Brasil produz mais longas metragens do que ele. Em festivais de cinema, já tem até piadinha: “Vocês já viram o longa do Evaldo desta semana?”. Piadinha do bem, é claro, mas que acaba causando invejado aos cineastas bissextos.
Só para falar de tempos mais recentes, Mocarzel finalizou “Quebradeiras”, “BR3” (em duas versões bem diferentes), “À Margem do Lixo”, “Sentidos À Flor da Pele”, “Cinema de Guerrilha” e “São Paulo Companhia de Dança”. Fora aqueles que eu provavelmente estou esquecendo.

“São Paulo Companhia de Dança”, que chega ao circuito agora, é encantador. Durante 30 dias, Mocarzel e sua equipe acompanharam de perto todo o processo de criação do espetáculo “Polígono”, de Alessio Silvestrin, montado pela Companhia de Dança que dá nome ao documentário. Entrevistas como o coreógrafo? Depoimentos sobre como a vida de bailarino é difícil? Pais e mães contando sobre o cotidiano de seus filhos/artistas? Nem pensar! O filme é totalmente visual e sensorial. “A palavra aqui não é nem coadjuvante; eu diria que é acidental”, diz o cineasta. São pouco mais de 70 minutos de um belíssimo desfile de imagens e sensações onde o corpo humano é ao mesmo tempo objeto e ação. Com luz primorosa e montagem nunca menos que brilhante.

O cineasta disse que brigou várias vezes com seu montador, que chegou a abandonar o projeto três vezes. Valeu a pena: está na edição/montagem do filme um de seus maiores trunfos.

“São Paulo Companhia de Dança” segue a linha contemplativa, intimista e reflexiva do também belíssimo “Quebradeiras”, do mesmo diretor. Tanto neste como naquele, Mocarzel abandona a fala, o verbal, para apostar suas fichas e apontar suas lentes para o vislumbre visual que – de fato – enche os olhos.

Mesmo porque “o cinema e a dança são duas artes que podem prescindir da palavra”, diz o cineasta.