SARCASTICAMENTE BIZARRO, “FRANK” FALA DA NECESSIDADE DE ACEITAÇÃO.

Por Celso Sabadin.

Jon (o irlandês Domhnall Gleeson, o Bill Weasley de “Harry Potter”) é um jovem tímido do interior da Inglaterra que tem a oportunidade de sua vida: ser tecladista numa banda de rock. Ao sair da casa dos pais e viajar com a banda, o rapaz descortina diante de si todo um novo universo de alternativas, incluindo os famosos sexo, drogas e rock´n´roll. Falando assim, parece até que “Frank” é igual a vários outros filmes que já vimos antes, cheio dos clichês que envolvem este tipo de roteiro. Não é. A começar pelo líder da tal banda, o Frank que dá nome ao filme (uma surpreendente interpretação de Michael Fassbender, de “Shame”), sujeito tido pelos seus colegas como genial, mas que se esconde dia e noite dentro de uma enorme cabeça falsa.

Fica claro que “Frank” não é um filme de leitura direta, para ser interpretado de forma literal. Escrito a quatro mãos por Peter Straughan (roteirista do elogiado “O Espião que Sabia Demais”) e Jon Ronson (autor do livro que originou o filme “Os Homens que Encaravam Cabras”), o roteiro propõe uma viagem que desafia a linha da verossimilhança e transfere para uma incômoda, desproporcional e onipresente cabeça falsa algumas das várias perturbações  – que não poucas – da essência da alma humana. É claramente um trabalho sobre medos e inseguranças, mas principalmente sobre o eterno desejo de ser aceito, de pertencer a alguém ou a algum grupo.

A segura e intrigante direção do irlandês Lenny Abrahamson proporciona ao filme uma bem-vinda dose de sarcasmo e humor negro. “Frank” está longe de ser uma “comédia”, como o material promocional da produção tenta vender, mas é fiel à tradição do delicioso e irônico humor tipicamente britânico que só o cinema feito no Reino Unido. “Frank” é o primeiro filme de Abrahamson a chegar no circuito comercial brasileiro.

Produzido por Inglaterra, EUA e Irlanda, o filme teve cinco indicações no British Independent Awards, ganhando as premiações de Música e Roteiro.

Por mais bizarra que toda esta história que o filme conta possa parecer, ela é inspirada na realidade. Ou no que possa ser considerado “realidade”, no universo do show business. Nos anos 80, na Inglaterra, o misto de ator, músico e comediante Chris Seavey criou o personagem Frank Sidebottom, que se apresentava metido numa grande cabeça de papel machê. O corroteirista de “Frank”, Jon Ronson, chegou a se apresentar na banda de Seavey, e teve a ideia de usar este ponto de partida para a trama do filme.