“SEDE DE SANGUE” TRAZ FRESCOR AO VAMPIRISMO.

Um vampiro sugando sangue de um tubo inserido em um paciente em coma. Um vampiro coloca de volta no lugar o osso do braço após sofrer uma fratura exposta. Essas são apenas algumas cenas do novo e inusitado filme de Park Chan-wook, diretor da “trilogia da Vingança” formada por Mr. Vingança (2002), Old Boy (2003) e Lady Vingança (2005).

O diretor responsável por trazer ao ocidente um pouco da cara do cinema oriental agora se aventura no badalado tema dos vampiros. Mas esqueça os vampiros antiquados e vegetarianos de Crepúsculo e os vampiros afeminados de Anne Rice. Aqui os ingredientes são outros e o diretor utiliza deles para contar sua excêntrica história.

Aqui o padre católico Sang-hyeon (Kang-ho Song, de o Hospedeiro) se vê cansado de ouvir confissões e se entrega a um programa que busca voluntários para testar uma cura contra um vírus letal. O teste dá errado e, quase morto, recebe uma transfusão de sangue que o mantém vivo, mas que o transforma em um vampiro. Agora o padre se vê obcecado naquilo que antes era impensável em sua vida: companhia feminina e sangue fresco. Muito sangue fresco; são litros de sangue falso jorrados durante o filme todo.

É na oscilação de gêneros que Park Chan-wook mostra seu estilo. No começo, parece que estamos vendo um filme sobre um homem que carrega uma maldição de ter que viver como vampiro. Ele não é feliz com sua condição e chega até a tentar – em vão, claro – suicídio. Logo aparece um interesse romântico por Sang, uma mulher casada e infeliz, e o longa assume o drama de um triângulo amoroso. Momentos de extrema beleza e ternura são quebrados por imagens de horror indescritível, ou por investidas de humor negro ou erotismo. Sem esquecer de suspense e surrealismo. É interessante ver como Park consegue ser estranhamente brutal e cômico ao mesmo tempo.

Pela temática sobrenatural, as cenas fortes não chocam tanto, diferentemente do que acontecia em Old Boy. Os efeitos sonoros do filme são eficientes em abusar do absurdo e acentuar o tom visceral da cena. Impressionam, muitas vezes, mais do que o visual mostrado na tela. O filme ultrapassa de duas horas de duração (130 minutos), o que pode cansar em alguns momentos.

Numa época em que cada vez mais é comum tentarem injetar histórias novas em material antigo (como os recentes O Lobisomem, Fúria de Titãs e Alice), Park Chan-wook consegue trazer um frescor ao vampirismo e ao mesmo tempo explorar muito bem romance, suspense e drama. Nós, o público, é que saímos ganhando; agora David Cronenberg e George Romero têm concorrência.