“SEM DATA, SEM ASSINATURA” E O EFEITO DOMINÓ DAS PEQUENAS IRRESPONSABILIDADES.

Por Celso Sabadin.

Antes de mais nada, precisamos falar sobre o cinema iraniano. Sabe aquele estereótipo anos 80 e 90 a respeito da produção cinematográfica do Irã, onde prevaleciam longos planos silenciosos ambientados em desertos empoeirados e vilas distantes, geralmente protagonizados por crianças  vivenciando histórias áridas, emotivas e cotidianamente simples? Esquece. Este período acabou. Não vou aqui entrar no mérito da questão se isso é bom ou ruim, mas simplesmente acabou. Assim como tem acontecido na cinematografia do mundo inteiro, o cinema iraniano também abandonou suas raízes e, em busca de um público mais amplo, se globalizou. Tanto que ultimamente já ganhou dois Oscars de filme estrangeiro, o que comprova seu processo de ocidentalização.

Assim, “Sem Data, Sem Assinatura” é um filme de produção totalmente iraniana, mas que conta de forma universal uma história igualmente universal, que poderia acontece em qualquer canto do planeta. E obedece a uma estética igualmente globalizada. Isso não quer dizer, absolutamente, que o filme é mediano. Pelo contrário, “Sem Data, Sem Assinatura” é um dos melhores trabalhos que chegam este ano ao nosso circuito comercial de cinema.

O roteiro de Ali Zarnegar e Vahid Jalilvand, praticamente estreantes (ambos só haviam feito anteriormente o longa “Chaharshanbeh, 19 Ordibehesht”, inédito por aqui) é perturbador e angustiante da primeira à última cena. O tipo do roteiro sobre o qual é melhor não dizer muita coisa. Tudo começa com um pequeno acidente de trânsito, no qual um homem é pressionado por um motorista apressado, que o faz perder ligeiramente o controle de seu carro e esbarrar numa moto, que acaba caindo.  Uma cena trivial em qualquer cidade grande, mas que acaba aos poucos se desenrolando como uma bola de neve rumo ao seu inexorável destino trágico.

Basicamente, o filme é sobre estas pequenas perdas de controle, sobre mínimas transgressões, sobre breves irresponsabilidades que – quando colocadas em sequência – acabam se constituindo em gatilhos para perdas irreparáveis. O famoso “deixa pra lá” ou “assim tá bom” (ou, no caso brasileiro, “o jeitinho”) que podem desencadear traumas  gigantescos.

Um grande filme que já conquistou mais de uma dúzia de prêmios e indicações em festivais internacionais. A estrei é em 20 de setembro.