“SEM PENA” DISCUTE TEMA URGENTE SEM PERDER O PRAZER CINEMATOGRÁFICO.

“Sem Pena” é um documentário paulista dirigido por Eugenio Puppo, o mesmo de “Ozualdo Candeias e o Cinema”. O tema é dos mais contundentes: o sistema judicial criminal brasileiro. Especialistas, advogados, magistrados e presos falam sobre o país que mais encarcera no mundo: nós. E de como esta febre por encarceramento não tem significado, de maneira alguma, mais segurança para a população. Pelo contrário.

O tema teria tudo para resultar num documentário esteticamente árido. O que felizmente não aconteceu. Ao invés de optar pelo tradicional formato de “cabeças falantes’, Puppo ilustra os depoimentos de seus entrevistados com imagens dos ambientes onde eles se encontram. Os rostos dos depoentes só serão conhecidos ao final do filme. Se num primeiro momento esta opção de montagem provoca um certo estranhamento, com o desenrolar do documentário ela se mostra bastante atrativa e acertada. Primeiro porque torna o filme mais “palatável” (se é que o adjetivo se encaixa num tema tão duro), e segundo porque desta forma o conteúdo dos depoimentos se apresenta menos fragmentado, mais consistente e mais denso.

“Sempre me incomodou muito assistir aos documentários em que você vê a pessoa enquanto ela dá o depoimento. A meu ver, isso influencia a informação sobre o que está sendo dito. Se você não põe a imagem, fica tudo no mesmo patamar. Quis que o espectador absorvesse o conteúdo dos depoimentos sem a influência da imagem. Quis fugir da linguagem televisiva. Achamos que não mostrando os rostos teríamos uma possibilidade de compreensão mais rica”, afirmou o diretor.

Uma impactante trilha sonora de John Cage ajuda a transformar “Sem Pena” num documentário diferenciado, que discute questões importantes e urgentes da nossa sociedade, sem deixar de lado o prazer estético-cinematográfico de se ver um bom filme.