“SEM PROTEÇÃO” É THRILLER ADULTO E POLÍTICO, NA CONTRA-MÃO DE HOLLYWOOD.

Sem Proteção
Por Celso Sabadin

Uma raridade absoluta estreia nos cinemas: um filme americano adulto, de temática adulta, dirigido de forma adulta e interpretado por atores adultos. Um filme americano onde o cinema é mais importante que a pipoca, e onde não há espaço para correrias sem sentido e tiroteios desenfreados. Trata-se de “Sem Proteção”, dirigido e interpretado por Robert Redford, tido como uma das personalidades mais politizadas de Hollywood.

O ótimo roteiro de Lem Dobbs (o mesmo de “Cidade das Sombras”), escrito a partir do livro de Neil Gordon, começa mostrando uma simples e pacata mãe de família (Susan Sarandon) surpreendentemente se entregando à Polícia. Motivo: décadas atrás ela havia encabeçado uma manifestação contra a Guerra do Vietnã que culminou com a morte de um segurança de banco. Por que ela se entregaria depois de tanto tempo é apenas uma das perguntas que começa a percorrer a mente do espectador. O fato é que este ato coloca em polvorosa outros membros participantes de ação, principalmente o Dr. Jim Grant (Robert Redford), um respeitado médico viúvo de uma pequena cidade do interior. Verdades que pareciam enterradas para sempre estão prestes a vir à tona.

A partir daí tem início um envolvente jogo de mistérios e revelações que formam um intrincado quebra-cabeças que não permitirá ao espectador nenhum tipo de distração. Quem abaixar os olhos pra pegar a pipoca pode perder um segundo de diálogo imprescindível para a compreensão total da trama.

Mais que um mero exercício cinematográfico de suspense, “Sem Proteção” também aborda de maneira incisiva o conflito de gerações entre aqueles que lutaram contra as injustiças de seu tempo, e os que hoje nada buscam além de um emprego razoável. Em determinada cena, o personagem de Redford confronta o jornalista (bem mais jovem) vivido por Shia LaBeouf, dizendo que se ele tivesse vivido na época da Guerra do Vietnã ele certamente se engajaria em um dos dois lados. E o rapaz, típico representante do individualismo consumista dos nossos dias, lhe diz que simplesmente não dá a mínima para nenhum lado.

Para os cinéfilos mais antigos (tipo eu), outra delícia do filme é acompanhar as diversas participações especiais de grandes astros de um passado recente, como Nick Nolte, Julie Christie, Chris Cooper, Sam Elliott e outros.