SENSIBILIDADE ORIENTAL À FLOR DA PELE EM “NOSSA IRMÃ MAIS  NOVA”.

Por Celso Sabadin.

Ainda estamos em março, mas já é possível afirmar que chega aos nossos cinemas um dos grandes candidatos a figurar nas listas dos melhores filmes deste 2016: “Nossa Irmã Mais Nova”, de Hirokazu Koreeda. Está longe de ser uma novidade o diretor e roteirista Koreeda figurar em listas e premiações. Formado em literatura, o cineasta é responsável por grandes momentos do cinema contemporâneo, como “Ninguém Pode Saber”, “O que Eu Mais Desejo” e “Pais e Filhos”, só para citar alguns exemplos mais recentes.

Em “Nossa Irmã Mais Nova” ele dá prosseguimento ao estilo intimista e extremamente humanista que o consagrou. A partir de um mangá publicado por Akimi Yoshida em 2007, o próprio Koreeda desenvolveu este belo roteiro sobre três irmãs – Sachi, Yoshino e Chika – que dividem uma casa no interior do Japão. A notícia da morte do pai não chega a abalá-las, pois já havia 15 anos que as irmãs viviam de maneira independente, praticamente sem vê-lo, sequer sabendo notícias suas. No funeral, porém, elas conhecem Suzu, uma meia-irmã adolescente com quem se afeiçoam muito rapidamente. As quatro garotas/mulheres, então, passam a formar uma nova família.

O filme traz uma das mais importantes marcas do cinema de Koreeda: sua enorme capacidade de extrair as mais profundas emoções dos fatos mais corriqueiros, dentro da encantadora simplicidade bastante típica dos grandes mestres do cinema japonês. O que vemos em “Nossa Irmã Mais Nova” é simplesmente o cotidiano de quatro pessoas diferentes em suas individualidades, mas unidas por fortes laços familiares, tentando o sucesso nesta árdua tarefa chamada viver. Não apenas sobreviver, mas viver intensamente dentro de sólidos preceitos de afeto, respeito, generosidade. Qualidades ao mesmo tempo tão difíceis de encontrar, mas que estão presentes num simples prato de comida, numa receita antiga, num pote de geleia, na sutileza de um olhar, numa queima de fogos. Basta saber enxergar. E Koreeda é mestre nesta também tão difícil arte de fazer enxergar, criando aqui mais um de seus belíssimos filmes que podem ser comparados a um origami, que extrai a mais pura das belezas de um pequeno pedaço de papel colorido. Sem cola nem efeitos especiais, apenas dobrando e redobrando com talento e magia artesanal.

Se em “Ninguém Pode Saber” o diretor centrou suas lentes em “nosso irmão mais velho”, se em “O que Eu Mais Desejo” e “Pais e Filhos” ele investigou a profundidade e as dificuldades das relações paternais e filiares, agora ele nos apresente uma irmã mais nova cheia de vigor e afetuosidade, que tem o poder de chamar a atenção para o universo de sentimentos que jorram da alma humana, mesmo quando nada de extraordinário parece estar acontecendo.

A estreia é quinta, 3 de março.