SENSÍVEL AFEGÃO “O ORFANATO” CHEGA AO VOD.

O fime chega ao Brasil no próximo 3 de dezembro, pelas pataformas Now e Vivo Play.

 

Por Celso Sabadin.

1989. Faltam apenas algumas semanas para a União Soviética se esfacelar, provocando – mais uma – mudança radical na política do planeta.

Totalmente alheio aos rumos das crises internacionais, um grupo de adolescentes leva a vida como pode, num orfanato em Cabul, Afeganistão. São pequenos contraventores, jovens excluídos, meninos mal saídos de uma infância difícil transitando perigosamente à margem da sociedade. Suas vidas se resumem à escola de orientação soviética, ao futebol no pátio (com direito a camisa de Maradona) e às coleções de figurinhas. Esquivar-se da truculência do valentão da turma é, no momento, a maior das preocupações.

Quodrat  (Quodratollah Qadiri), de 15 anos, detido por atuar como cambista de ingressos de cinema, tem a sua própria maneira de fugir da realidade: quando a dificuldade aperta, ele se imagina como um dos protagonistas e heróis dos vários filmes de Bollywood a que assiste, voando longe e solitariamente nas cores e nas músicas da ilusão do cinema.

Difícil falar do filme sem dar spoiler.  Coproduzido por Dinamarca, Luxemburgo, França, Alemanha e Afeganistão, “O Orfanato” apoia sua dramaturgia no choque final da trama que – se por um lado é impactante – por outro é anunciado logo em seu primeiro fotograma, ao localizar a ação no tempo e no espaço.

Neste seu terceiro longa, Shahrbanoo Sadat, jovem (29 anos) roteirista e cineasta que saiu do Irã como refugiada para se radicar no Afeganistão, se mostra das mais competentes na difícil missão de dirigir crianças/adolescentes não atores, ao mesmo tempo em que cria um clima de cumplicidade e grande empatia de seu elenco com o público.

‘O Orfanato” cativa gradativamente ao construir este micro universo de exclusão, enquanto prepara seu doloroso e inevitável golpe final.

Em entrevista para o site Eurimages, Shahrbanoo diz que na verdade queria estudar Física, mas confundiu-se na ficha de inscrição para os exames da Universidade de Cabul e acabou entrando para uma oficina de cinema, na qual conheceu a obra de Agnès Varda e se entusiasmou pelo tema. Impossível dizer se o mundo perdeu uma grande Física, mas a julgar por “O Orfanato” os cinéfilos ganharam uma ótima cineasta.

Consciente ou não, “O Orfanato” traz uma amarga ironia ao utilizar iconicamente uma camiseta de então herói de ação Rambo, que naquela época acabara de lançar um filme no qual “salvara” o Afeganistão do comunismo.

Participante da Seleção Oficial da Quinzena dos Realizadores de Cannes em 2019, “O Orfanato” estreia no Brasil no próximo 3 de dezembro, pelas pataformas Now e Vivo Play.