“SERIAL KELLY”: O BRASIL PROFUNDO CONTRA ATACA.

Por Celso Sabadin.

Apesar de seu roteiro estar em desenvolvimento já há alguns anos, a estreia de “Serial Kelly” precisamente neste final de 2022, a poucas semanas da posse de um novo presidente que promete recolocar o Brasil nos trilhos do humanismo, cai como uma luva: o filme é de uma impressionante contemporaneidade.

O longa explode na tela com vigor e potência para retratar uma espécie de vingança dos excluídos, um grito de revolta e liberdade dos que são subjugados há séculos pela crueldade da sociedade brasileira predominante. Com ênfase, claro, para os últimos quatro anos de sordidez.

A principal agente desta vendeta nacional é Kelly (a cantora belenense Gaby Amarantos), que viaja pelo Brasil profundo protagonizando shows de forró eletrônico em inferninhos perdidos pelo sertão. Pelos caminhos por onde passa, corpos emergem, tornando Kelly a principal suspeita dos assassinatos.

A investigação policial é comandada pela delegada Fabíola (Paula Cohen), que, da mesma forma que sua suspeita, também padece do extremo machismo arraigado na sociedade brasileira. Kelly e Fabíola atuam em lados opostos da mesma moeda, e são vítimas comuns dos preconceitos estruturais congênitos e endêmicos do país.

Destaque para uma impagável cena mostrando um desfile de moda evangélica, em um não menos impagável shopping center.

“Serial Kelly” marca a mais do que promissora estreia do alagoano Rene Guerra no longa-metragem, após seus premiados curtas “Os Sapatos de Aristeu” (2007), “Quem tem medo de Cris Negão”(2012), e “Vaca Profana” (2016). O roteiro é do próprio Guerra, em parceria com Marcelo Caetano, diretor de “Corpo Elétrico”.

Em cartaz nos cinemas brasileiros desde 24/11, “Serial Kelly” entra agora em sua segunda semana de exibição.