SÉRIE “OS OLIGARCAS DE PUTIN” EXPLICA A RÚSSIA PÓS-COMUNISMO.

Por Celso Sabadin.

Durante décadas, fomos doutrinados pela mídia ocidental a ver a antiga União Soviética como um monstro devorador de liberdades individuais e um inimigo a ser ferozmente combatido pela chamada Democracia.

Uma breve olhada neste terreno sem lei e disseminador de ódio chamado “redes sociais” nos mostra que, por mais incrível que pareça, muitos ainda pensam assim em relação à Rússia. Tem gente – e não é pouca gente – que ainda cita o país como comunista.

Assim, é muito bem vinda a estreia no canal Curta e na plataforma CurtaOn da série documental “Os Oligarcas de Putin”, que busca explicar didaticamente o que aconteceu com o país após as políticas da Perestroika (reestruturação) e da Glasnost (abertura) implementadas por Mikhail Gorbachev, nos anos 1980. Ou, trocando em miúdos, o que é a Rússia pós-União Soviética.

São três episódios com 52 minutos cada. O primeiro, “Controlando o Petróleo”, mostra como Boris Yeltsin, o primeiro presidente russo eleito democraticamente, praticamente entregou a economia a um pequeno punhado de jovens e gananciosos empreendedores que implantaram no país a selvageria do pensamento neoliberal, em alta no mundo naquele instante.

O resultado não poderia ser outro: através de muita especulação financeira, corrupção e até de assassinatos, a Rússia rapidamente se transformou numa nação de 140 milhões de pobres e 20 bilionários. Convencionou-se chamar estes mafiosos de “oligarcas” (é impressionante como o documentário evita usar a palavra “capitalista”).

A partir do segundo episódio, a série abordará mais diretamente a escalada de um jovem ex-agente da KGB que consegue um pequeno emprego na prefeitura de São Petesburgo e se aproveita do esquema criminoso para rapidamente se transformar no todo-poderoso líder Vladimir Putin. Parece coisa de cinema, mas é vida real.

Uma das histórias relembra que nove meses antes de invadir a Ucrânia, Putin teria suspendido o abastecimento de gás a países da União Europeia como parte de sua estratégia bélica: sem gás para enfrentar o rigoroso inverno, nações como a Alemanha e França seriam forçadas a negociar com o presidente russo sobre a invasão. A afirmação é de Vladimir Milov, ex-vice-ministro de Energia da Rússia. Para Luke Harding, jornalista do The Guardian e autor do livro “Mafia State”, Putin é “o cara da torneira”. Em entrevista para o documentário, ele diz que, se países europeus “se tornam difíceis e agressivos, Putin simplesmente fecha a torneira”.

“Conquistando o Ocidente” e “Financiando a Guerra da Ucrânia” são os títulos dos dois capítulos que fecham a série, que tem direção de Jérôme Fritel e produção da ARTE France e YAMI2.