“SIDONIE NO JAPÃO”, PORQUE HÁ MOMENTOS EM QUE O EXÍLIO É NECESSÁRIO.
Por Celso Sabadin.
Saí de “Sidonie no Japão” com vontade de morar nos tempos e no silêncio do filme. Na trilha musical também, se for possível, por favor.
Neste seu terceiro longa para cinema, a diretora e roteirista Élise Girard consegue imprimir em sua obra uma intensa aura de reflexões e memórias embalada por um clima quase surreal de isolamentos que parecem se mostrar cada vez mais necessários nesta nossa contemporaneidade incendiária.
Isabelle Huppert (que se fez algum filme ruim na vida, o filme ficou bom só porque ela o fez) interpreta a Sidonie do título, uma autora de livros que, quando questionada se é escritora, responde: “sim e não”. Ela é uma hesitante convidada a viajar ao Japão também do título para o relançamento de seu primeiro livro.
É saindo de sua parisiense zona de conforto que Sidonie vai encontrar, do outro lado do mundo, o necessário distanciamento para enfrentar seus fantasmas do passado. Literalmente.
Ainda que lidando com temas doloridos, “Sidonie no Japão” consegue destilar também agradabilíssimas doses de humor, principalmente graças à (mais uma) extraordinária interpretação de Huppert, que traduz o choque cultural entre ocidente e oriente em sutis e divertidos instantes de uma hilariante expressão corporal.
Chama ainda a atenção um criativo trabalho de mise en scène que sublinha a solidão da protagonista enfocando-a de forma solitária em situações em que dificilmente tal isolamento poderia existir, como na alfândega de um grande aeroporto internacional, viagens de barco, e nas ruas de grandes cidades.
No processo interno de cura, exilar-se é preciso.
Exibido nos festivais de Veneza, São Francisco e Munique. “Sidonie no Japão” tem roteiro escrito por três mulheres: Sophie Fillières, Maud Ameline e a própria diretora, Élise Girard. A produção é franco-germano-teuto-suíça (existe isso?).