SIMPÁTICOS, INTELIGENTES E SENSÍVEIS “VIGARISTAS”.

Filmes sobre golpes simpáticos e divertidos aplicados por golpistas simpáticos e divertidos costumam ser bastante… simpáticos e divertidos. “Golpe de Mestre” e “Onze Homens e um Segredo” são dois exemplos bem marcantes deste – digamos – sub-gênero. A boa notícia é que “Vigaristas” (título nacional que batiza “The Brothers Bloom”) vai muito além do simpático, e muito, muito além do divertido. Trata-se de uma verdadeira preciosidade.

Os irmãos do título original são Stephen (Mark Ruffallo) e Bloom (Adrien Brody, de “O Pianista”). Órfãos, desde crianças eles são expulsos das famílias que tentam adotá-los por estarem sempre aplicando desfalques em seus padrastos. O inteligente Stephen é quem arquiteta as ideias e cria os planos. E o sensível Bloom é um excelente executor.

Porém, quando chega à idade adulta, Bloom entra em crise existencial. Ele percebe que não é ninguém, e que durante toda a vida apenas desempenhou os papeis escritos por seu irmão. Melancolicamente, ele precisa ir em busca do próprio destino. Stephen, porém, não quer que a dupla se desfaça, e propõe ao irmão um último e grande golpe: desfalcar Penelope (Rachel Weisz, de “O Jardineiro Fiel”) uma excêntrica milionária.

A partir daí, o ótimo roteiro e a empolgante direção de Rian Johnson desenvolvem um delicioso jogo ilusório ao redor do mundo, onde nada é o que parece, e onde as maiores certezas se desvanecem num segundo. Uma brincadeira de perde-e-ganha? Muito mais que isso, pois os personagens de “Vigaristas” têm nuances, inteligência, profundidade e humanismo.

É tocante a interpretação de Brody como o homem que percebe ter sido um títere durante toda a vida. Um executor sem vontade própria, um manipulado que imaginava ser o manipulador. É riquíssima a personagem Penelope, a mulher que sabe tudo, que tem tudo, mas que nunca vivenciou nada, sendo escrava de seus livros e vítima de uma piada de mau gosto. Bloom tem sede de individualidade. Penelope tem sede de viver. Cada um ao seu jeito, ambos precisam recuperar os tempos perdidos de suas vidas. E em meio a eles está Stephen, um homem que… bem, como já foi dito, nada neste filme é o que parece.

Não bastassem as riquezas dos personagens, a fina ironia dos diálogos, o sarcasmo das situações, e as belíssimas locações (Sérvia, Romênia, Montenegro e República Checa), ainda por cima o filme tem uma direção genial repleta de planos criativos (e significativos), ótimo ritmo, interpretações carismáticas e um eficiente trabalho de som.
A direção de arte não estabelece períodos. Mistura o novo com o antigo, o clássico com o moderno, e cria assim um visual de conto de fadas, amparado ainda mais pela beleza da cidade de Praga.

Craitivo, inteligente e sensível, o filme foi lançado em pouquíssimas salas nos cinemas dos EUA, onde naufragou na bilheterias.