“SKINAMARINK” TENTA INOVAR O TERROR.
Por Celso Sabadin.
Não por acaso, em tempos sombrios como os atuais (pandemia, ascensão da direita, violência, guerras, desclassificação do Corinthians, etc.), temos – como já é cíclico – uma grande onda de filmes de terror invadindo os cinemas e os streamings. É a arte como espelho da realidade.
Particularmente, gosto do gênero, mas sinto alguma dificuldade em separar o joio do trigo, pois tal quantidade de produções acaba gerando uma série de filmes muito parecidos uns com os outros, explorando zonas de conforto já consagradas em obras anteriores, e causando o tal efeito “mais do mesmo”.
Assim, tive uma especial curiosidade em conferir “Skinamarink”, que no Brasil ganha o subtítulo “Canção de Ninar”. Para curtir o filme, é obrigatório deixar de lado qualquer resquício de pensamentos convencionais sobre o gênero. O roteirista e diretor canadense Kyle Edward Ball (aqui em seu primeiro longa, após trafegar por vídeos musicais e de arte) busca muito mais uma estética sensorial, trabalhando com texturas visuais e sonoras, enquadramentos nada cartesianos e um desapego total da narrativa clássica. Como não podia deixar de ser, estratégias de internet ajudaram a alavancar o interesse pelo filme, praticamente tornando-o “cult” antes mesmo de sua estreia.
Sinopse? Nem pensar. Tem duas crianças perambulando por uma casa, à noite, ao som de antigos desenhos animados, e saber disso já tá bom demais. O resto é criação de clima. Longos planos potencializados por cortes abruptos e sons estridentes, permeados por granulações e efeitos que incitam perturbações alucinatórias formam o arcabouço desta experimentação de linguagem.
Se eu gostei? Diria que gostei mais pelo que o diretor buscou alcançar do que propriamente pelo que ele alcança. A tentativa da originalidade me satisfaz muito mais do que (re)ver mais um filme sobre jovens que se encontram numa mansão isolada sem sinal de celular…
“Skinamarink” estreou nos cinemas brasileiros nesta quinta, 23/03