SOBRIEDADE, ELEGÂNCIA E EMMA THOMPSON MARCAM “UM ATO DE ESPERANÇA”.

Por Celso Sabadin.
 
Como é bom, pelo menos uma vez por semana, desintoxicar nossa percepção cinematográfica vendo um filme sem tiros e sem perseguições desenfreadas pelas ruas. É bom, mas é difícil, pois parece que o circuito cinematográfico tem cada vez mais dificuldades em programar filmes que sejam simplesmente… humanos.
A indicação D-Tox dos lançamentos da semana é o envolvente e sensível “Um Ato de Esperança”, coprodução EUA/Inglaterra roteirizada por Ian McEwan (o mesmo que roteirizou e produziu “Desejo e Reparação”) a partir do seu próprio livro.
O filme acompanha o cotidiano de Fiona Maye (Emma Thompson, irrepreensível e perfeita), uma respeitada juíza em Londres a quem cabe julgar os mais complexos casos familiares. Seu trabalho, que não é nada simples, complica-se ainda mais quando cai em suas mãos o caso de um garoto de 17 anos que pode morrer a qualquer momento porque seus pais, por motivos religiosos, se recusam a autorizar uma transfusão de sangue. Entram em pauta, e em cena, várias questões referentes ao poder do Estado, à ignorância da intransigência, aos limites da religião e – claro – à própria vida.
Mais que isso, “Um Ato de Esperança” se fixa também no lado íntimo e humano da protagonista, extremamente dedicada ao seu trabalho, mas que não consegue lidar com o desmoronamento de sua própria vida pessoal.
O que mais encanta no filme, porém, é a sobriedade e a elegância da direção de Ricard Eyre, o mesmo de “O Amante”, “Notas Sobre um Escândalo” e “A Bela do Palco”. Um verdadeiro oásis cinematográfico.