SOLIDÃO E SUTILEZAS MARCAM A PRODUÇÃO BRITÂNICA “GIGOLÔS”.

Um silencioso passeio noturno pelo submundo de Londres, apoiado por uma eficiente e hipnótica fotografia. Assim pode ser definido “Gigolôs”, filme inglês de ficção, mas com um pé fortemente fincado no naturalismo documental.
A trama fala de Sacha (Sacha Tarter), gigolô profissional especialista na arte de satisfazer ricas senhoras britânicas da terceira idade. Minucioso e elegante, Sacha deve boa parte de seu sucesso a Trevor (Trevor Sather), mistura de empresário e assistente que cuida de todos os detalhes para que seu galante colega de trabalho se concentre apenas no que seja necessário. Porém, a relação entre ambos começa a estremecer quando Sacha se acidenta e decide que o amigo Trevor irá substituí-lo provisoriamente.
Chega a surpreender o fato de “Gigolôs” ser um longa-metragem de estréia. E mais. Que seu diretor, Richard Bracewell, tenha sido também o responsável pela produção e pela ótima fotografia do filme. Escura, intimista, atraente, ela atira o espectador diretamente nas calçadas londrinas, criando o clima perfeito para o desenvolvimento e credibilidade da história. História, aliás, escrita a seis mãos pelo próprio diretor, em conjunto com Sacha Tarter e Trevor Sathe. Sim, os atores principais do filme. Não, eles não são gigolôs na vida real. Apenas amigos de colégio e parceiros em dois curtas.
Estes três jovens talentos, além de realizarem um notável longa de estréia, conseguiram também outra proeza com “Gigolôs”. Convenceram três grandes damas das telas inglesas – Susannah York, Sian Phillips e Anna Massey – a participar como atrizes coadjuvantes do projeto. Susannah York interpretou a mãe do Superman em três produções e recebeu indicação ao Oscar de coadjuvante por “A Noite dos Desesperados”. Anna Massey trabalhou com Hitchcock em “Frenesi” e George Cukor em “O Milho Está Verde”. E Sian Phillips esteve em “Nijinski” e “Duna”, entre dezenas de outros.
Apesar do título, “Gigolôs” não é um filme sobre sexo, mas um delicado estudo sobre a solidão, a falta de carinho, o abandono da terceira idade, a carência por uma elegância sóbria que parece não ter mais espaço nos dias de hoje. A mesma elegância sóbria que Richard Bracewell destila em seu filme. E que certamente não tem espaço nos engordurados multiplexes de hoje.
———————————————————–
Gigolôs (The Gigolos). Inglaterra, 2005. Direção de Richard Bracewell. Com Sacha Tarter, Trevor Sather, Susannah York, Sian Phillips, Anna Massey.