“SOUVENIR”, A VIDA BATENDO NAS TRAVES.

Por Celso Sabadin.

Liliane (Isabelle Huppert) é uma cinquentona que décadas atrás teve seus 15 minutos de fama participando – e quase vencendo – de um importante concurso musical. Jean (Kévin Azaïs), bem mais novo que Liliane, é um rapaz que busca a fama e o reconhecimento através do esporte. Ambos se conhecem trabalhando numa asséptica fábrica de bolos, em algum lugar no interior da França. E vão tentar viver um amor impossível.

Os créditos iniciais são introduzidos numa bela cena com bolhas efervescentes, supostamente vindas de um festivo espumante, ao som de uma melodia romântica, o que nos remete à alegria e ao glamour… para logo percebermos que na verdade se trata de um antiácido. Uma irônica sinalização de que é muito tênue o limite que separa a glória do sonrisal.

Singelo, extremamente afetivo e bastante terno, “Souvenir” é um filme que mergulha com sensibilidade no mundo do “quase”. Liliane quase foi nacionalmente famosa. Jean é quase um esportista profissional. O amor deles é quase impossível. Um quase que às vezes parece minúsculo e às vezes gigantesco. No abismo etário que divide os protagonistas, Liliane é quase passado; Jean é quase futuro. É a vida batendo na trave, quase vencedora, quase campeã, mas nem por isso menos vivida.

Encantador, minimalista, e repleto de interessantes elipses que lhe conferem um ótimo ritmo narrativo, “Souvenir” tem um bem-vindo sabor nostálgico e artesanal que remete aos bolos que Liliane mecanicamente enfeita à mão, na fábrica onde trabalha. Com direito até ao uso da palavra “Fim”, antes dos créditos finais, como se fazia nos filmes de antigamente.

E Isabelle Huppert, como sempre, está ótima no seu papel de Isabelle Huppert, que ela interpreta como nenhuma outra Isabelle Huppert. “Souvenir” estreia nesta quinta, 9 de março.