“SR. KAPLAN” USA O REFINAMENTO DO HUMOR JUDEU COMO AUTO-IRONIA.

Aproximando-se dos 80 anos de idade, Jacobo Kaplan (o veterano chileno Hector Noguera. ótimo) é acometido de um medo que todos nós temos. Ou quase todos: morrer sem ter feito nada de importante. No mesmo instante em que passa sua tediosa vida a limpo, o Sr. Kaplan fica sabendo da presença de um estranho morador próximo à sua casa: um alemão octogenário apelidado de Nazi. É o que basta para que o protagonista passe a agir como um agente secreto, investigando seu suspeito e elaborando planos mirabolantes para sequestrá-lo e levá-lo a julgamento em Israel. Planos tão mirabolantes que podem até dar certo.

Destilando um humor ácido e sarcástico, o filme traz o grande mérito de fugir do politicamente correto, ao mesmo tempo em que é sutil o suficiente para construir um riso que não descamba para o simplismo. Tudo pode ser ridicularizado pelo olhar ferino do diretor Álvaro Brechner (o mesmo de “Mau Dia para Pescar”), até o orgulho judaico em se considerar a única religião na qual Deus fala diretamente com o Homem, sem intermediários. Ainda que, na visão de Brechner, o que Deus fala não faça o menor sentido.

“Sr. Kaplan” ainda critica, com bom humor, o esquecimento ao qual os aposentados são relegados, a hipocrisia das relações familiares e a obsessão pela caça aos antigos nazistas.

Coproduzido por Uruguai, Alemanha e Espanha, o filme é baseado no livro “El Salmo de Kaplan”, do colombiano Marco Schwartz, e foi o escolhido do Uruguai para representar o país no Oscar.