“STAR WARS 9”: VIDA LONGA E PRÓSPERA… OPA, PERALÁ!

Antes de mais nada, uma advertência: além de não ser uma crítica ao filme “Star Wars Episódio 9”, este texto está coalhado de spoilers.

Por Celso Sabadin.

Em 1980 – portanto, há exatos 40 anos – escrevi uma matéria no pequeno tabloide “Em Cartaz” (onde comecei minha carreira como jornalista especializado em cinema) falando sobre o projeto de George Lucas de lançar nada menos que nove episódios da saga “Star Wars”. Naquela época pré-globalização, o filme por aqui se chamava “Guerra nas Estrelas”, e o texto em questão introduzia o lançamento do segundo longa da saga (que na verdade é o quinto episódio), “O Império Contra-Ataca”.

Na época, eu ficava só imaginando como seriam estes nove capítulos, se Lucas conseguiria mesmo fazê-los, quanto tempo demoraria, etc. Naquele momento, eu curtia “Star Wars” (ou “Guerra nas Estrelas”) com entusiasmo mediano. Tinha gostado bastante do primeiro e do segundo longas, embora tivesse achado a cena do botequim intergaláctico bobinha demais, com aqueles inúmeros alienígenas (ainda não existia a expressão “E.T.”) claramente feitos de borracha. Também torci o nariz para os Ewoks, espécie de Ursinhos Carinhosos do espaço. Gostei do terceiro filme e, mais tarde, me desencantei totalmente com os longas 4, 5 e 6 (respectivamente episódios 1, 2 e 3). Simplesmente não conseguia sequer decorar aquele amontoado de nomes envoltos numa trama sonolenta. Organa, Mace Windu, nação Naboo, Palpatine, Ki-Adi-Mundi, Padmé, Tion Medon (Lucas deve ter visto “Assalto ao Trem Pagador”), Senador Orn Free Taa, Jar Jar Binks, Capitão Colton, Tarkin… não é mole, não.

Já os filmes 7 e 8 nem fiz questão mais de ver no cinema. Esperava sair em DVD nas Lojas Americanas. Os spin-off nem sei quais são.

Porém, quando praticamente caiu no meu colo a oportunidade de ver o tão icônico episódio 9 no cinema, voltei a me entusiasmar. Passava férias em Curitiba, conheci meio que por acaso o maravilhoso Cine Passeio, e lá estava o filme. “Vou fechar a saga na telona”, falei pra mim mesmo. Ninguém da minha família quis vir. Minha esposa nunca foi ligada na série (até hoje ela acha que o Spock está nela), e para meus filhos adolescentes “Star Wars” é uma referência cinematográfica de um mundo tão tão distante.

Fui sozinho, como sozinho assisti a todos os outros episódios. Seria, no mínimo, algo representativo ver, no cinema, o mítico final sobre o qual eu havia escrito há exatos 40 anos, precisamente no ano em que iniciei minha carreira nesta área. Considerei como uma espécie de marco simbólico de mim para mim mesmo, sei lá. Por isso mesmo, entrei na sala escura do Cine Passeio não como um crítico de cinema, nem tampouco como fã, mas apenas como uma pessoa disposta a se deixar levar pelo fluxo de sons e imagens ao qual me submeteria nas próximas duas horas. Não tinha sequer a pretensão de compreender com exatidão as nuances da trama, pois para mim já tinham ficado no lado obscuro da minha memória nomes estranhos de personagens que faziam referência a partes do corpo, como Amidala e Dooku.

E foi assim que vi o episódio 9 de “Star Wars”: completamente desarmado. E gostei da experiência, mesmo porque não havia expectativas. Achei bem repetitivo o fato da guerreira do Bem ser neta do poderosão do Mal, exatamente como já havia acontecido antes, no famosíssimo “Luke, I´m your Father”. Se era para repetir assim tão descaradamente, deveriam ter dado a Palpatine a fala “Rey, I´m your grandfather”. Gostei de ter revisto o Lando Calrissian (que deve ser o primeiro personagem negro-armênio-espacial da história do cinema), que me remeteu ao frescor juvenil do primeiro episódio. Achei meio deprê a aparição fantasma do Harrison Ford. Se era pra colocar aparições fantasmas e homenagear todo mundo da série, poderiam ter posto também gasparzinhos do Obi Wan Kenobi e do Yoda. E até do verdadeiro pai do Harrison Ford, o Sean Connery… opa… peralá..!

Não entendi por que Rey falava o tempo todo que ela tinha tido uma visão com o Kylo Ren ao lado dela, no trono, e isso não aconteceu. A visão dela falhou? Mas Jedi falha? Boiei um pouco neste quesito.

Gostei da presença forte de Daisy Ridley, gostei das batalhas espaciais (nisso toda a saga sempre foi boa), o filme comprova que por mais que o tempo passe Mark Hamill jamais será um bom ator e, sim, bateu uma tristezazinha da Carrie Fischer ter morrido.

Só não gostei mesmo do George Lucas ter me enganado durante todos estes 40 anos. Afinal, quando escrevi, em 1980, que a série estava prevista para nove episódios, ele deu a entender que os nove capítulos já estavam escritos. Claro que o mundo mudou muito de lá pra cá (nem tinha governo Reagan naquela época, quando mais os neoidiotas de hoje), mas eu pensei que pelo menos um argumentão básico ele já tinha, um começo-meio-fim, uma história bem amarrada (tipo os livros do Harry Potter, por exemplo). Não sabia que o tal episódio supostamente final seria escrito por Derek Connolly, Colin Trevorrow, Chris Terrio e J.J. Abrams, autores de obras clássicas como Lego e Pokemon.

O que se viu então foi um episódio que deixou bem claro que este não será o último, que é claro que o Kylo Ren vai voltar e que o Lando Calrissian e a Mas Kanata vão atrás de alguma coisa. Ou seja, a saga não acabou porcaria nenhuma. E o que é pior: tudo continuará sob o comando da Disney, uma empresa altamente especializada em nivelar pelo nivelamento mais niveladamente mediano (palavra com a mesma raiz de medíocre) qualquer história já produzida pela mente humana. Incluindo Shakespeare.

Assim, para os próximos sub-sub-produtos de “Star Wars”, não contem mais com a minha presença nos cinemas. Já vi o que tinha que ver. No máximo, a partir de agora, um devedezinho das Lojas Americanas. Se estiver em liquidação.