Star Wars: Episódio III – A Vingança dos Sith

Depois de 28 anos, finalmente a saga Guerra nas Estrelas chega ao fim. Agora todos sabemos, afinal, como foi que Darth Vader ganhou aquele capacete asfixiante e aquela respiração que exaspera qualquer claustrófobo deste 1977. Está desvendada a criação de um dos maiores ícones do cinema de aventura e ficção das últimas décadas. A espera acabou. Star Wars: Episódio III – A Vingança dos Sith chegou aos cinemas.
A grande pergunta é inevitável: o filme é bom? Só é possível responder com outra pergunta: comparado com que? Se formos comparar este Episódio III aos recentes I e II, ele ganha longe. Tem muito mais emoções e conflitos humanos que os anteriores. Mas se formos compará-lo aos jurássicos episódios IV, V e VI, ele perde: Lucas simplesmente nunca mais conseguiu recuperar o frescor, a jovialidade e a inventividade dos três filmes produzidos nos anos 70 e 80. A primeira trilogia, como se sabe, mudou a história do cinema com seu ritmo incessante, montagem alucinante, estratégias de marketing, e personagens que definitivamente se incorporaram à cultura pop. A segunda trilogia não tem, nem de longe, o fôlego da primeira, perdendo-se entre a profusão de efeitos especiais estéreis.
Star Wars: Episódio III – A Vingança dos Sith mostra o desgaste político e o inevitável racha que acontece entre o Chanceler Palpatine (Ian McDiarmid) e o Conselho Jedi. Anakin Skywalker (Hayden Christensen), jovem Cavaleiro Jedi e futuro Darth Vader, quer manter um vínculo de lealdade com o Chanceler, ao mesmo tempo em que luta para que seu casamento com Padmé Amidala (Natalie Portman) não termine na tragédia anunciada pelas suas próprias premonições. Por outro lado, o Conselho Jedi jura que existe na galáxia apenas para defender a República e a Democracia, fato que Anakin reluta em acreditar. Abalado pela possibilidade de perder a esposa, descrente das forças do Bem, e seduzido pelas promessas de imortalidade das forças do Mal, Anakin finalmente sucumbe à tentação, como sempre soubemos que aconteceria. Este é um dos pontos básicos do filme: já sabemos o que vai acontecer. Queremos ver é como.
A verdade é que muita água passou por debaixo da ponte, da vida e do cinema, de 1977 para cá. No primeiro episódio produzido, as vestes do Império e seus métodos violentos foram comparados ao Nazismo. Agora, a truculência do filme tem estilo Bush. “É assim que a Liberdade morre. Com aplausos estrondosos”, diz Amidala quando as forças do Mal tomam o poder diante de uma Assembléia que é impossível não recordar a da ONU. O Mestre Jedi Obi-Wan Kenobi (Ewan McGregor), quando se vê incapaz de derrotar um inimigo apenas com seu sabre de luz, apela para o tiroteio. Descarrega uma arma de fogo sobre o oponente, joga-a sobre o cadáver derrotado e diz: “Que falta de civilidade”. E até Yoda, que foi símbolo de sabedoria e paz numa era onde ainda havia resquícios da cultura hippie, é transformado em guerreiro violento. Este Star Wars parece querer validar qualquer tipo de violência, desde que se encontrem as armas de destruição em massa.
No Brasil também aconteceram mudanças. Nos primeiros filmes, “the dark side of the Force” era traduzido nas legendas como “o lado negro da Força”. Ou Escuro. Nas legendas politicamente corretas dos dias de hoje, agora fala-se de um lado “sombrio”. O jogador Grafite fez escola. E mais: para quem ainda não percebeu, o título da saga mudou. Nada de “Guerra nas Estrelas”. Em nome da globalização, tudo agora se chama “Star Wars”. Fica bem mais fácil na hora de licenciar camisetas, brinquedos, lancheiras e canetas.
Cinematograficamente falando, Star Wars: Episódio III é um filme de estética antiga e ultrapassada. Bebe na fonte dos velhos épicos dos anos 50, quando os personagens eram solenes, falavam como se estivessem recitando Shakespeare, e pareciam todos vítimas de lordose. A música não pára nunca. Repare na figura do Chanceler: desde os velhos filmes de horror dos anos 30 não víamos um vilão tão histrionicamente rouco.
Os roteiros, talvez preocupados que o público médio não fosse entender a trama, não hesitavam em repetir a mesma idéia e o mesmo conceito três, quatro ou cinco vezes, como este Star Wars. Como o redundante O Senhor dos Anéis. E tanto naquela época como hoje, a profusão de espetaculares e espetaculosos efeitos especiais enchia os olhos do público, acobertando as várias falhas.
E, mesmo assim, repito, é o melhor episódio dos últimos três. Ainda que demore para chegar ao seu ápice, explora com talento as dúvidas e as angústias do personagem principal e dá dignidade ao ladro negro… ops, sombrio da Força, ao legitimar os motivos de sua luta contra os Jedi.
Como os episódios I e II foram realmente muito sonolentos, a saga se encerra com saldo positivo, mas não a ponto de deixar saudades. Felizmente faz tempo que George Lucas abandonou sua antiga idéia de fazer nove episódios. Seis estão de bom tamanho. Que venham novas idéias!