SUPOSTAMENTE POLÊMICO, “SHORTBUS” NO FUNDO É CARETA.

Todos dizem que o mundo mudou muito nos últimos anos. Pode ser. Mas é impressionante como o mais antigo e fundamental dos temas – o sexo – continua causando alvoroço. O sexo, e somente ele, pode justificar a suposta “polêmica” que o filme “Shortbus” possa causar. Digo “suposta” porque nestes tempos em que o jornalismo engole qualquer mentira plantada pelos estúdios de cinema sem o mínimo questionamento, não se pode sequer afirmar com certeza que o filme esteja, de fato, provocando discussões. Na verdade ele é muito comportado e cartesiano para ser objeto de algum tipo de espanto.

Bem humorado, “Shortbus” narra a trajetória de Sofia (a eficiente atriz e cineasta canadense Sook-Yin Lee), uma terapeuta de casais que, apesar da profissão, nunca conseguiu sentir um orgasmo na vida. Quando ela confessa isso aos seus clientes homossexuais James (Paul Dawson) e Jamie (PJ DeBoy), os rapazes logo a levam até o “Shortbus”, uma casa de amor livre onde todas as manifestações sexuais acontecem sem censura. Lá, outros personagens vão se incorporar à trama.

“Shortbus” é um simpático entretenimento de diálogos espertos e personagens divertidos. Com todos os cacoetes do chamado “cinema independente americano”, ele prega uma espécie de retomada do período Paz & Amor dos anos 60, embora opte por uma narrativa tradicional, sem as transgressões que a época propunha. Em outras palavras, é careta. Talvez com o intuito mercadológico de chocar, apresenta uma ou duas cenas de sexo explícito, mas nada que seja suficiente nem para torná-lo transgressor, muito menos para criar a suposta polêmica relatada no início deste texto. Ou seja, é um careta travestido. De maneira bem apropriada, um personagem diz que “Shortbus” é “igual aos anos 60, mas sem os sonhos”. Uma boa definição que cabe tanto para o lugar como para o próprio filme.