“SURDINA”, A LIBERTAÇÃO DO LUTO.

Por Celso Sabadin.

O ritmo todo particular, a simplicidade narrativa e a intensa verbalização típicas do cinema português podem ser conferidas em “Surdina”, filme que acabou de estrear no Brasil.
A partir da obra do escritor e artista plástico angolano Valter Hugo Mãe, o roteiro e a direção de Rodrigo Areias falam de Isaque (Antonio Durães, ótimo), um homem que todas as semanas leva flores e limpa o túmulo de sua esposa. Há, porém, um estranhamento no gesto do idoso, que parece enfurecido e impaciente em sua visita ao cemitério. Quando o ponto de vista do filme se transfere para a população fofoqueira do lugar, surge outra inquietação: talvez a mulher morta de Isaque não esteja tão morta assim…

“Surdina” conduz o público a um Portugal interiorano (foi rodado no belo Centro Histórico de Guimarães, na província de Minho), de senhoras vestidas de preto a conversar nas janelas, mesmo que muito perto dali cruze uma moderna autoestrada. É um lugar de contrastes que referencia onde viveu o diretor Areias. É ele próprio quem explica que se utilizou de poesias e metáforas para contar uma história sentimental, de perdas e variações do luto.
O filme foi premiado no Festival Internacional de Cinema de Girona (Espanha) como melhor filme, melhor fotografia e melhor trilha original, e ainda coleciona os prêmios de melhor filme em língua estrangeira do Central States Indie FanFilmFest (EUA) e melhor filme estrangeiro do Kyiv International Film Festival (Ucrânia).

“Surdina” está disponível gratuitamente na plataforma do Cine Sesc. https://sesc.digital/colecao/cinema-em-casa-com-sesc .