TENSÕES ATÔMICAS E AMOROSAS BROTAM EM “GRAND CENTRAL”.

É o típico filme francês que costuma agradar bastante aos fãs do cinema europeu (incluindo eu mesmo): reflexivo, silencioso, câmera intimista, um drama de amor, ótimas interpretações e, de quebra, uma denúncia social. E tudo funciona muito bem.

O protagonista é Gary (Tahar Rahim, de “O Príncipe do Deserto”), um rapaz meio perdido, aparentemente fugindo de alguém ou alguma coisa, que arruma emprego numa usina atômica francesa. Lá ele faz várias amizades e se apaixona pela colega de trabalho Karole (Léa Seydoux, a Emma de “Azul é a Cor Mais Quente”), que por sua vez está prestes a se casar com o grandalhão Toni (Denis Ménochet, de “O Verão do Skylab”), que também trabalha na mesma usina.

Não bastasse a tensão natural da situação, onde os sentimentos que brotam fortemente à flor da pele precisam ser obrigatoriamente sufocados, “Grand Central” adiciona à sua trama outro forte elemento de ansiedade: a tal usina parece um barril de pólvora, sempre prestes a – se não explodir – a contaminar seus empregados com arrasadoras doses de radiação. Como o próprio Gary.

É sobre este binômio de tensões – a afetiva do triângulo amoroso proibido e a vital da sobrevivência em tempos difíceis – que a roteirista e diretora Rebecca Zlotowski se apoia para construir seu drama de relações humanas contaminadas. Sempre com muita segurança na narrativa e competência na criação de climas e desenvolvimento de personagens.

Um atraente trabalho que participou da seção “Um Certain Regard” no Festival de Cannes.