Tentação

Terry que amava Jack, que amava Edith, que amava Hank que amava todo mundo… A paródia de Drummond ilustra bem a trama de Tentação, surpreendente “tradução” brasileira para o título We Don´t Live Here Anymore (não moramos mais aqui).
Reflexivo e introspectivo, o filme mostra um quadrilátero amoroso nascido em meio ao cotidiano mediano de dois casais perdidos em algum lugar do interior dos EUA. Ou do Canadá. Não importa, é por ali. Jack (Mark Ruffalo, de Em Carne Viva) mantém um caso com a bela Edith (Naomi Watts, de O Chamado), amiga de sua esposa Terry (Laura Dern, de Jurassic Park). Para piorar a situação, Edith é casada com Hank (Peter Krause, da série A Sete Palmos), melhor amigo de Jack. A traição é dupla. E com o tempo será quádrupla.
Ambos os casais se mostram tristes, incompletos. Os filhos sinalizam a desagregação familiar com cenas de tédio explícito. O sexo surge no relacionamento também de maneira entristecida, às vezes sob a forma de obrigação matrimonial, outras vezes como simples válvula de escape, ou – pior ainda – como instrumento de posse, dominação e “marcação de território”. A cidade é pequena, as emoções são grandes, o transbordamento é inevitável. Mas nada hollywoodiano. Felizmente. Aliás, com tanta gente fumando e os homens sempre com a barba por fazer, Tentação é o cinema americano tentando sem francês.
Tentação carrega o típico espírito do filme independente norte-americano (inclusive tendo o seu roteiro premiado em Sundance), onde as emoções sinceras se sobrepõem ao espetáculo. Trata-se do filme ideal para quem faz terapia de casal. Ou deveria fazer.