“TEU MUNDO NÃO CABE NOS MEUS OLHOS” USA A CEGUEIRA COMO METÁFORA DA SENSIBILIDADE.

“TEU MUNDO NÃO CABE NOS MEUS OLHOS” USA A CEGUEIRA COMO METÁFORA DA SENSIBILIDADE.

Por Celso Sabadin

Diz o ditado popular que o pior cego é aquele que não quer ver. Mas muitas vezes o universo muito particular do cego acaba sendo mais incômodo àqueles que enxergam. Dono de uma pizzaria no bairro paulistano do Bexiga (Edson Celulari, ótimo), é um cego que não faz questão de ver.  Totalmente adaptado, ele leva uma vida sem restrições, com direito até a frequentar estádios de futebol para ver… ou melhor, sentir, o seu amado Corinthians.  Sua falta de visão é compensada por outras sensibilidades, como, por exemplo, a do tato muito especial que tem no preparo de suas massas. Porém, sua esposa Clarice (a argentina Soledad Villamil, de “O Segredo dos Seus Olhos”) insiste para que Vitório faça uma cirurgia que pode lhe devolver a visão, e lhe proporcionar uma mudança radical de vida. Mas será que todos querem de fato uma mudança radical de vida?

Com roteiro e direção de Paulo Nascimento (o mesmo de “ A Oeste do Fim do Mudo”), “Teu Mundo Não Cabe nos Meus Olhos” utiliza a cegueira como uma metáfora da sensibilidade. Não apenas de uma única sensibilidade, mas das variadas formas que temos de encarar a vida. Os sons de uma torcida, os toques de pele, os aromas dos alimentos e principalmente os arrepios do amor formam um arcabouço de importantíssimas percepções tantas vezes menosprezadas por uma cultura que preferiu se apoiar no bombardeio dos estímulos visuais que – em sua profusão incontida – tanto têm diluído os caminhos mais sutis do sentimento.  Esta é uma das propostas do filme: o respeito pelas diferentes vias de perceber o mundo que cada indivíduo carrega.

Lembrando o norte-americano  “À Primeira Vista” (de Irwin Wikler, 1999), “Teu Mundo Não Cabe nos Meus Olhos” faz ainda a feliz opção de jamais desandar para o sentimentalismo raso que o tema poderia proporcionar. Pelo contrário: além do protagonista exalar uma constante aura de otimismo e alegria de viver, o roteiro ainda faz um bem-vindo contraponto cômico através do personagem Cleomar (Leonardo Machado), um gaúcho colorado que finge torcer para o alvinegro Corinthians para agradar ao patrão e amigo Vitório.

Como se vê (ou não), as cores da paixão são apenas uma questão de pontos de vista. Ou de pontos de coração.

Estreia em 3 de maio.