TIRADENTES 2017: O POÉTICO E O POLÍTICO SE UNEM EM “GUARNIERI”.

Por Celso Sabadin, de Tiradentes.

É inegável: vivemos um momento de retrocesso. Tanto político, quanto humano. O Brasil e o mundo se entortam para a direita e assuntos que pareciam mortos e enterrados saem de suas tumbas como zumbis devoradores de cérebros. Assim, o belíssimo documentário “Guarnieri”, sobre a vida, a obra e o pensamento do dramaturgo e ator brasileiro Gianfrancesco Guarnieri – exibido na 20ª Mostra de Tiradentes – vem revestido de uma tristemente impressionante aura de atualidade.

O longa, num primeiro momento, traz um forte mote humano e pessoal: seu diretor, Francisco Guarnieri, neto do biografado, busca através do cinema exorcizar, ou pelo menos tentar compreender, os motivos do distanciamento de seu famoso e querido avô. Uma mensagem gravada por Francisco, ainda criança, na secretária eletrônica de Gianfrancesco, e uma foto de ambos, que transpira visível afastamento, são de cortar o coração e proporcionam o combustível de saída para a investigação documental.

Contudo, como não poderia deixar de ser em se tratando de Gianfrancesco Guarnieri, logo emerge o viés político. Vigoroso, inevitável e absolutamente necessário. Através de textos do dramaturgo, e principalmente com a utilização de imagens do filme “Eles Não Usam Black-Tie”, o documentário traça um sólido eixo narrativo que vai amalgamar as relações pai/filho da ficção escrita por Guarnieri e dirigida por Leon Hirszman aos conflitos familiares vivenciados não apenas por Francisco, como também pelo seu pai, Fábio, e seu tio, Paulo. Lembrando que, cada um a seu modo, Fábio e Paulo também transitaram pelo mundo artístico e pelas armadilhas dos laços familiares.

O resultado é de forte carga dramática, inserindo-se tanto nesta nova e assustadora realidade política, como nas eternas questões insolúveis dos conflitos familiares.

 

Celso Sabadin viajou a Tiradentes a convite da organização do evento.