TOCANTE “AEROPORTO CENTRAL”, DE KARIM AÏNOUZ, ESTREIA DIRETO NO STREAMING.

Por Celso Sabadin.

As artes não podem esperar. Principalmente as de qualidade. Se os cinemas estão fechados, as plataformas digitais se apresentam, no momento, como o grande canal de distribuição da produção audiovisual. Não é a mesma coisa que ver um filme na tela grande, envolvido pela energia presencial de mais espectadores, mas é o que temos para o momento. E, pensando como Poliana, talvez esteja aí o caminho para que a produção brasileira chegue a um número bem maior de pessoas.

Neste contexto de pandemia e isolamento, impossibilitado de estrear nos cinemas, chega às plataformas “Aeroporto Central”,  premiado documentário que Karim Aïnouz realizou antes de “Vida Invisível”.

Coproduzido por Alemanha, França e Brasil, o longa mostra como o reaproveitamento da área de um aeroporto desativado em Berlim pode se transformar em ferramenta de grande importância no combate ao flagelo contemporâneo dos refugiados de guerra. O aeroporto em questão é o Tempelhof, inaugurado nos anos 1920, que Hitler queria transformar no maior da Alemanha, após a guerra. Não só não transformou, como em 2015 ele foi redesenhado para servir de centro de acolhimento de refugiados estrangeiros, ideia que certamente fez o Fuhrer se revirar no túmulo, se é que ele está em algum.

Pelo período de um ano, o filme acompanha dois personagens que depositam seus sonhos e esperanças no lugar: o estudante sírio Ibrahim e o fisioterapeuta iraquiano Qutaiba. O resultado é uma aula de cinema. A câmera de Karim passeia com desenvoltura pelos gigantescos espaços abertos do antigo aeroporto registrando belíssimos e dolorosos momentos da solidão proporcionada pelo distanciamento afetivo dos que lá habitam. São pessoas de vidas cortadas e raízes culturais arrancadas pela violência que têm agora – no espaço asséptico deste centro de triagem – uma única chance de retornar a algum tipo de normalidade possível. São meses a fio à espera de uma carta oficial amenizados, na medida por possível, por um telefonema para casa ou uma festinha de toscos papais noéis. É a vida possível em tempos de guerra.

“Aeroporto Central” acerta em cheio ao retratar a situação de forma sóbria e cinematográfica, evitando qualquer tipo de panfletarismo e/ou sentimentalismo fácil que o tema potencialmente proporciona. Em belos tempos estendidos e imponentes enquadramentos, Karim só mostra – e como! – a dor da distância. Não é preciso falar quase nada.

Exibido em mais de 30 festivais internacionais, e premiado pela Anistia Internacional no 68º Festival de Berlim, “Aeroporto Central” estreia em 24 de abril no Now, Vivo Play, Oi Play, Itunes, Google+, Filme Filme e Looke.