“TODAS AS RAZÕES PARA ESQUECER” SATIRIZA A ATUAL GERAÇÃO DE ADULTOS INFANTILIZADOS.

Por Celso Sabadin.

Num primeiro olhar mais superficial, “Todas as Razões para Esquecer” poderia ser visto apenas como uma simpática comédia romântica adolescente sobre um rapaz que não consegue lidar com o término de seu relacionamento. Mas… peralá! Os protagonistas não são adolescentes! São jovens adultos, teoricamente independentes, inseridos normalmente no mercado de trabalho, donos de seus próprios narizes, mas que sofrem de um mal cada vez mais presente na sociedade contemporânea: a dificuldade de crescer. É sobre esta radiografia de toda uma geração pressionada por padrões comportamentais impostos e pré-estabelecidos pela sociedade de consumo que se apoiam os maiores méritos do filme. Assim como seus contemporâneos, o protagonista Antonio (não por acaso, um publicitário), se vê na inexorável obrigação de ser feliz, mesmo não sendo.

“Todas as Razões para Esquecer” se inicia com o rompimento da relação entre Antonio e a namorada com quem já vive há alguns anos. Sem ter para onde ir, ele se refugia na casa de uma prima – que também está em crise com o marido – ao mesmo tempo em que busca um pouco de distração e fuga nas festas promovidas por um novo vizinho e nos bate papos movidos a cerveja com um amigo que abriu mão da carreira para voltar a viver com a mãe e tentar escrever um livro. Só tentar. Tal trama abre espaço para um interessante núcleo de personagens de – digamos – entre 25 e 30 anos, todos incapazes de encarar com alguma eficiência a transição da adolescência para a vida adulta. Ou, em outras palavras, um retrato astuto que lança um olhar afiado para toda uma geração que não consegue amadurecer. E que talvez jamais consiga. A personagem da psiquiatra faz um bem-vindo contraponto que mostra que a terceira idade tampouco é imune a este problema.

Outro grande mérito do filme é tratar deste espinhoso tema com muito alto astral e bom humor. Buscando um público pouco explorado pelo cinema brasileiro, “Todas as Razões para Esquecer” consegue um bom equilíbrio entre a ironia, a crítica e a densidade do assunto que se propõe a abordar, o que é bastante perceptível, por exemplo, quando ridiculariza o uso de antidepressivos e aplicativos como modismos, ou quando enfoca o sexo como o grande elemento de escapismo universal.

Johnny Massaro desenvolve um excelente trabalho na interpretação de Antonio, encontrando o equilíbrio ideal entre o cômico, o trágico e o patético, sem cair na facilidade das armadilhas caricatas que o papel poderia proporcionar. Com destaque também para a dignidade madura da interpretação de Thiago Amaral (no papel do vizinho Deco, o personagem mais docemente equilibrado do filme) e para uma trilha sonora envolvente que passa longe dos lugares-comuns.

“Todas as Razões para Esquecer” é o primeiro e bastante promissor longa do roteirista e diretor Pedro Coutinho, diretor dos também premiados curtas “O Jogo” e “O Nome do Gato”. O filme estreia em 1º de março.