“TODOS CONTRA ZUCKER” CRITICA COM HUMOR A INTOLERÂNCIA DA NOVA ALEMANHA

Existem conceitos que, digamos assim, não combinam. “Eletrônica de precisão boliviana”, por exemplo, tem credibilidade? E “comédia alemã”? Geralmente atribui-se ao cinema alemão – e até à cultura germânica como um todo – uma espécie de falta de jogo de cintura, de quase ou nenhuma maleabilidade, como se o famoso país da cerveja fosse capaz de produzir somente pesados dramas de guerra. São os mesmos arquétipos que rotulam o francês de romântico, o italiano de histriônico ou o brasileiro de preguiçoso.

Desta forma, chega a causar uma certa estranheza a estréia nos cinemas brasileiros da comédia alemã (sim, elas existem), “Todos Contra Zucker”. Até mesmo pelo fato do filme ter sido produzido já há quatro anos.

Não se trata exatamente de uma comédia de gargalhadas, mas o filme não deixa de ter, sim, sua simpatia. Tudo gira em torno de Jakob Zucker (Henry Hübchen), um ex-comentarista esportivo da antiga Alemanha Oriental que não consegue se adaptar à nova era pós-queda do muro. Nestes tempos democráticos atuais, ele está sem dinheiro, administra um prostíbulo, bebe, joga, acaba de ser enxotado de casa pela esposa, e tem um péssimo relacionamento com a filha. Sim, é uma comédia. A vida de Zucker, porém, dá uma guinada quando ele é comunicado da morte de sua mãe, e de uma provável herança que viria num ótimo momento. Mas para que o dinheiro lhe seja realmente entregue, Zucker deverá antes passar por uma verdadeira prova de fogo: fazer as pazes com seu irmão Samuel (Udo Samel), um judeu dos mais ortodoxos, a quem não vê nem mantém contato há décadas.

Como comédia, no amplo sentido da palavra, “Todos Contra Zucker” está longe de ser brilhante. Pode até provocar um sorriso aqui ou ali, mas o verdadeiro valor do filme está nas críticas sociais que tece em sua trama. Zucker representa toda uma geração de alemães (em particular) e europeus (em geral) que não se encaixaram na nova realidade econômica pós-Euro. São praticamente párias ou marginais que não conseguiram se encontrar no novo velho continente unificado pelo Euro e pela desintegração dos antigos regimes socialistas. Impossível não lembrar do excelente “Adeus Lênin”, onde um filho teme que sua mãe não suporte as mudanças radicais da nova Alemanha. Vendo pelo lado humanista, o filme prega a tolerância, o tal “jogo de cintura”, condenando excessos, pré-julgamentos e preconceitos.
Certamente por abordar uma situação tão próxima aos alemães, “Todos Contra Zucker” levou mais de um milhão de pessoas às bilheterias de seus país, e foi indicado a quase 20 prêmios, tendo recebido seis Lola, o equivalente germânico do Oscar.

Após todo este sucesso, o diretor Dani Levi lançou no ano passado uma nova comédia cujo título é, no mínimo, intrigante: “Mein Führer – Die wirklich wahrste Wahrheit über Adolf Hitler”, que poderia ser traduzido livremente como “Mein Führer – A Verdade Verdadeiramente Verdadeira Sobre Adolf Hitler”. Nela, o grande ator Ulrich Mühe, de “A Vida dos Outros”, recentemente falecido, faz o papel de um personagem cujo nome é simplesmente Adolf Israel Grünbaum. Alguma distribuidora brasileira se habilita?