“TOQUE FAMILIAR”, SÓBRIO E SUTIL.
Por Celso Sabadin.
Filmes sobre envelhecimento sempre são traiçoeiros: basta uma direção pouco segura que qualquer escorregadela de roteiro pode transformar a obra em algo piegas ou apelativo.
Felizmente “Toque Familiar” não cai nestas perigosas armadilhas.
Produção independente estadunidense, “Toque Familiar” acompanha a trajetória de Ruth (Kathleen Chalfant) em seu difícil processo de adaptação: acometida de Alzheimer, ela sai de sua confortável casa para ser internada por seu filho (H. Jon Benjamin) em uma instituição de cuidados especiais para idosos. Porém, nem ela própria se recorda de ter autorizado tal procedimento. E esse é um dos grandes trunfos do roteiro: tudo acontece sob a óptica da protagonista, que replica assim no público suas próprias incertezas e estranhamentos.
Acompanhamos a demência com os olhos da demência.
Sutil, introspectivo e – que maravilha! – silencioso, “Toque Familiar” não busca o grande momento de redenção, a grande cena, nem os cansativos e industriais “plot twists.” Pelo contrário, mantém-se todo o tempo numa espécie de suspensão silenciosa, tateando seus caminhos com o temor de quem não comanda mais os próprios destinos. Sem perder a dignidade, jamais.
Uma promissora estreia de Sarah Friedland, aqui em seu segundo roteiro e primeira direção. Ela se baseou em suas experiências pessoas com a avó, e trabalhou três anos como cuidadora de idosos.
Premiado como Melhor Filme de Estreia, Melhor Direção (na seção Orizzonti) e Melhor Atriz (Kathleen Chalfant) em Veneza, “Toque Familiar” estreia em cinemas brasileiros nesta quinta, 18/09.