TORNATORE APOSTA NO SUSPENSE EM “A DESCONHECIDA”

O diretor Giuseppe Tornatore será eternamente lembrado pelo seu emocionante e inesquecível “Cinema Paradiso”. E talvez seja exatamente este o grande problema dele: a cada novo filme do cineasta, todos logo correm para dizer que “Cinema Paradiso” é melhor. Casos parecidos aconteceram com o “Cidadão Kane” de Orson Welles e “O Pagador de Promessas” de Anselmo Duarte.
O novo filme de Tornatore – “A Desconhecida” – certamente está muito aquém de “Cinema Paradiso”. Mas não deixa de ser um trabalho denso, instigante e de qualidade.
Trocando um pouco de seu conhecido tom melodramático por um punhado de suspense, Tornatore conta a história de Irina (a russa Kseniya Rappoport), uma imigrante ucraniana que tenta ganhar a vida na cidade italiana de Velarchi. Ela faz tudo o que está ao seu alcance para conseguir um emprego de faxineira num edifício residencial, mas logo o roteiro (também de Tornatore) revela que aquela estranha mulher tem habilidades e economias suficientes para conseguir trabalhos melhores. Por que, então, tanta insistência em trabalhar ali? Em rápidos flash backs, o filme revela aos poucos o macabro e bizarro passado de Irina, convidando o espectador a montar um quebra-cabeças cuja última peça só será revelada no final do filme. Algumas boas pistas falsas contribuirão, no decorrer da trama, para aumentar a curiosidade de quem gosta de um bom roteiro.
Claro, sempre há espaço para alguns exageros estilísticos típicos do diretor e – por que não – típicos também da sempre deliciosamente exagerada alma italiana. Mas nada que tire o prazer de se acompanhar com atenção esta envolvente história de tensões, sofrimentos e eternos recomeços.
“A Desconhecida” foi indicado a sete David di Donatello (o Oscar italiano) e levou cinco, incluindo direção, filme, atriz e trilha sonora (para o imbatível Ennio Morricone). Ganhou também o prêmio de público no European Film Awards, e é o representante italiano a pleitear uma indicação para o Oscar de filme estrangeiro em 2008. Pena que seu lançamento no Brasil ocorra num final de semana tão ingrato, quando as pessoas em geral estão mais preocupadas com as compras de Natal que em ver um bom filme.