“TRE PIANI”, VÁRIOS SENTIMENTOS.

Por Celso Sabadin.

Ótima a ideia da distribuidora de lançar o novo filme de Nanni Moretti com seu título original, “Tre Piani”. Num primeiro momento, a tradução mais óbvia seria Três Andares (não, não seria Três Pianos), posto que um edifício romano com estes tais de três andares é o local onde tudo acontece. Contudo, um segundo olhar observa que o filme é muito mais que isso: são três famílias abaladas pelos acontecimentos da trama, vários planos de envolvimento, diferentes níveis de relacionamentos, alturas diversas de pensamentos morais, medidas desconectadas em muitos patamares. Enfim, “Tre Piani” ficou ótimo neste contexto.

A partir do livro “Shalosh Qomot”, publicado em 2015 pelo premiado escritor israelense Eshkol Nevo, o roteiro de Federica Pontremoli, Valia Santella e do próprio diretor tem como ponto de partida um atropelamento seguido de fuga, que acontece bem diante do edifício que será palco dos acontecimentos que se sucederão no filme. Desgovernado, o carro invade o apartamento de Lucio (Ricardo Scamarcio) e Sara (Elena Lietti). Há uma testemunha: Monica (Alba Rohrwacher). O autor do crime, o jovem Andrea (Alessandro Sperduti), com o agravante de estar embriagado, visando fugir não só de seu ato, como principalmente de uma eventual condenação, procura a ajuda de seu pai, Vittorio (interpretado por Moretti), um influente juiz romano. Vittorio, por sua vez, se mostra incorruptível, mesmo com o caso envolvendo o próprio filho, o que abre uma rota de colisão com sua esposa, Dora (Margherita Buy).

Outros moradores do prédio são envolvidos, novas tramas se apresentam, personagens se entrecruzam e se tangenciam com rara habilidade narrativa, outros temas espinhosos vêm à pauta, e tudo acontece sob a direção segura e elegante de Moretti, que costura as tramas dentro de uma urdidura que somente os grandes cineastas conseguem estabelecer.

A sobriedade continua sendo uma das marcas registradas do diretor: nunca vi tantos personagens italianos juntos, passando por situações das mais desesperadoras… e ninguém falando alto, nem gritando.  Vamos considerar que seja uma licença poética.

Selecionado para a Mostra Competitiva de Cannes, e indicado ao David di Donatello de Roteiro Adaptado, “Tre Piani” ratifica mais uma vez o talento diretivo de Moretti, aqui em um momento de bem-vindas maturidade a capacidade narrativa.

O longa entrou em cartaz nos cinemas brasileiros em 7 de abril.